Histórias Maravilhosas

 A Medalha Milagrosa  e a conversão de  Afonso Ratisbonne

A conversão de um jovem banqueiro comoveu a Europa do século XIX. É fascinante a narração desse portentoso milagre.

Afonso Ratisbonne, aparentado à celebre família Rothschild, tinha 27 anos quando a Santíssima Virgem lhe apareceu e o converteu instantaneamente, em 20 de janeiro de 1842.
Homem culto, rico e de fino trato, bem-relacionado nas altas rodas sociais, estava noivo de uma jovem de sua família. Tinha pela frente um futuro muito promissor.
De passagem por Roma, visitou como turista ruínas históricas, numerosos monumentos e igrejas.
Na véspera da partida, deveria fazer a contragosto uma visita ao Barão Teodoro de Bussières, irmão de um velho conhecido seu. Para livrar-se do incômodo compromisso, resolveu traçar em seu cartão de visita algumas palavras de mera formalidade e entregar ao porteiro. Este, porém, não entendendo bem a pronúncia do estrangeiro, introduziu-o amavelmente no salão e anunciou sua chegada ao dono da casa.

Apóstolo ardoroso e hábil

Recém-convertido do protestantismo, Teodoro de Bussières, católico praticante e apóstolo ardoroso, não quis deixar escapar a oportunidade de conquistar essa alma para Deus. Recebeu com muita cortesia o visitante e habilmente conduziu a conversa de modo a fazê-lo discorrer sobre seus passeios pela Cidade Eterna.
A certa altura, disse Ratisbonne: “Visitando a Igreja de Aracoeli, no Capitólio, senti-me tomado de uma emoção profunda e inexplicável. O guia, percebendo minha perplexidade, perguntou o que estava acontecendo e se eu queria me retirar”.
Ouvindo isto, os olhos de Bussières brilharam de contentamento. Seu interlocutor, notando essa reação, apressou-se em frisar que tal emoção nada tinha de cristã. E ante o contra-argumento de que bem poderia ser uma graça de Deus, chamando-o à conversão, o israelita, contrariado, pediu para não insistir no assunto porque ele jamais se tornaria católico. “Você perde seu tempo. Nasci na religião judaica e nela morrerei!” — afirmou.
A conversa tendia para a discussão. Em certo momento, Bussières teve uma singular idéia, que muitos certamente classificariam de loucura.
— Já que você é um espírito tão superior e tão seguro de si, prometa-me levar ao pescoço este presente que vou lhe dar.
— Vejamos. De que se trata? — perguntou Afonso.
— Simplesmente desta medalha — replicou o Barão, mostrando-lhe a conhecida Medalha Milagrosa.
Ratisbonne reagiu com surpresa e indignação, mas Bussières acrescentou, com bem calculada frieza:
— Segundo sua maneira de pensar, isto deve ser perfeitamente indiferente para você; e, aceitando usá-la, você me causará um grande prazer.
— Está bem... Vou usá-la. Isto me servirá como um capítulo pitoresco de minhas notas e impressões de viagem — anuiu Afonso, escarnecendo da fé de seu anfitrião.
Este colocou-lhe então no pescoço a medalha e, ato contínuo, propôs-lhe algo ainda mais inopinado: que, ao menos uma vez ao dia, ele rezasse a oração “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria”, composta por São Bernardo.
Ratisbonne recusou de forma categórica, julgando a proposta uma demasiada impertinência de Bussières. Mas este, impelido por uma força interior, insistiu. Apresentando-lhe a prece, pediu-lhe que a aceitasse e tirasse uma cópia de próprio punho, de modo que, como lembrança da visita, cada um ficasse com o exemplar escrito pelo outro.
Para ver-se livre da importuna insistência, Ratisbonne cedeu, dizendo com ironia: “Está bem, vou escrevê-la. Você ficará com minha cópia, eu ficarei com a sua”.

O poder da oração

Quando ele se retirou, Teodoro e sua esposa entreolharam-se em silêncio. Preocupados pelas blasfêmias proferidas por Afonso ao longo da conversa, pediram perdão a Deus por ele. Nessa mesma noite, Bussières procurou seu íntimo amigo, o Conde Augusto de La Ferronays — católico fervoroso e embaixador da França em Roma — para relatar o ocorrido e pedir orações pela conversão de Ratisbonne.
“Tenha confiança — disse La Ferronays — se ele reza o ‘Lembrai-Vos’, a partida está ganha”. Ele próprio rezou com empenho pela conversão do jovem israelita, e há indícios de que tenha oferecido a vida nessa intenção.
Quanto a este, chegando ao hotel, fatigado, copiou maquinalmente a prece sem quase lhe prestar atenção. No dia seguinte, surpreendeu-se ao notar o quanto as palavras dessa oração se apoderaram de seu espírito. Escreveu em seu relato: “Não conseguia defender-me. Elas me retornavam sem cessar. Eu as repetia continuamente”.
Bussières entretanto — movido pela força interior que o levava a insistir, certo de que cedo ou tarde Deus abriria os olhos de Afonso — foi visitá-lo no hotel. Não o encontrando, deixou-lhe um convite para voltar à sua casa pela manhã. Este foi. Mas preveniu logo ao chegar:
— Espero que não me venha com aquelas conversas de ontem. Vim aqui apenas para despedir-me. Parto esta noite para Nápoles.
— Partir hoje? Jamais! Na segunda-feira haverá solene pontifical na Basílica de São Pedro, e você precisa ver o Papa oficiando.
— Que me importa o Papa? Vou-me embora — retrucou Afonso.
Bussières contemporizou, insistiu, prometeu levá-lo a outros lugares pitorescos de Roma e acabou convencendo-o a adiar a partida.
E ei-los visitando palácios, igrejas, obras de arte. Embora, do ponto de vista da conversão de Afonso, as conversas entre ambos se mostrassem infrutíferas, o incansável apóstolo tinha a convicção íntima de que um dia ele seria católico, ainda que fosse preciso descer um Anjo do Céu para esclarecê-lo.
Nessa noite, faleceu inesperadamente o Conde de La Ferronays.
Bussières combinou encontrar-se com Ratisbonne na manhã seguinte, em frente à Igreja de Santo André delle Fratte. Quando este chegou, comunicou-lhe o falecimento do Conde e pediu-lhe que esperasse alguns minutos dentro da igreja enquanto ele iria à sacristia tomar algumas providências para as exéquias.
O jovem ficou de pé no templo, olhando maquinalmente em torno de si, sem prestar atenção em nada. Não podia passar para o outro lado, devido às cordas e arranjos florais que barravam o corredor.
Bussières retornou pouco depois e, de início, não conseguiu localizar seu amigo. Observando melhor, descobriu-o ajoelhado diante do altar de São Miguel, do lado oposto e bem distante do lugar onde o deixara. Aproximou-se e o tocou várias vezes, sem este se dar conta de sua presença. Finalmente, o jovem voltou-se para ele, com a face banhada em lágrimas, de mãos juntas, e lhe disse: “Oh! quanto esse senhor (La Ferronays) rezou por mim!”

“Eu a vi! Eu a vi!”

Estupefato, Bussières sentia a emoção de quem presencia um milagre. Ergueu solicitamente Ratisbonne, perguntando-lhe o que ele tinha e aonde queria ir. “Leve-me para onde quiser; depois do que vi, eu obedeço” — exclamou este.
Solicitado a explicar-se mais, ele não conseguia, mas tirou do pescoço a Medalha Milagrosa e osculou-a várias vezes. Apenas pôde dizer: “Ah, como sou feliz! Como Deus é bom! Que plenitude de graças e de bondade!” Com um olhar radiante de felicidade, abraçou seu amigo e pediu-lhe para trazer o quanto antes um confessor; perguntou quando poderia receber o Batismo, sem o qual, afirmava, não conseguiria mais viver. Acrescentou que nada mais diria sem autorização de um sacerdote. “O que tenho a dizer, só posso fazê-lo de joelhos”, declarou.
Bussières levou-o logo à igreja dos jesuítas, onde o Pe. Villefort o induziu a explicar o ocorrido. Afonso tirou do pescoço a Medalha Milagrosa, osculou-a e mostrou-a ao sacerdote, dizendo emocionado: “Eu a vi! Eu a vi!”
Em seguida, mais tranqüilo, relatou:
“Eu estava havia pouco tempo na igreja quando, de repente, senti-me dominado por uma emoção inexplicável. Levantei os olhos. Todo o edifício desaparecera de minha vista. Apenas uma capela lateral tinha, por assim dizer, concentrado toda a luz. E no meio desse esplendor apareceu de pé sobre o altar, grandiosa, brilhante, cheia de majestade e doçura, a Virgem Maria, tal como está nesta medalha. Uma força irresistível empurrou-me para Ela. A Virgem fez-me sinal com a mão para que me ajoelhasse, e pareceu dizer-me: ‘Está bem!’ Ela não me falou, mas compreendi tudo.”
O padre pediu-lhe mais detalhes. O feliz convertido acrescentou que pôde ver a Rainha dos Céus em todo o esplendor de sua beleza sem mácula, mas não conseguiu contemplar diretamente sua face. Por três vezes, tentou erguer a vista, mas só chegou a pousar os olhos sobre suas mãos virginais. Delas espargiam raios de luz em sua direção.
Era o dia 20 de janeiro de 1842.
Batizado com o nome de Afonso Maria, o jovem Ratisbonne renunciou à família, à fortuna, à situação brilhante na sociedade, e ordenou-se sacerdote. Faleceu em odor de santidade, após uma vida de intenso apostolado em Jerusalém.
Quem visita a Igreja de Santo André delle Fratte, pode observar um grande e belo quadro de Nossa Senhora no local exato onde Ela apareceu e operou tão estupenda conversão. Os italianos dão-lhe o nome de Madonna Del Miracolo. ²

A Medalha Milagrosa

Em uma das aparições a Santa Catarina Labouré, no convento da Rue du Bac, em Paris, em 27 de novembro de 1830, Nossa Senhora lhe mostra como deve ser a medalha que deseja que seja difundida: “Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo. Todos os que a usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças. Estas serão abundantes para aqueles que a usarem com confiança...”
E indica a frase que deve constar na medalha: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.
Tantas foram as graças obtidas que, em apenas sete anos, já haviam sido distribuídos mais de dez milhões de exemplares pelo mundo.
E a medalha, antes conhecida como “da Imaculada Conceição”, passou a ser chamada pelo povo de “milagrosa".
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SANTA CLARA DE MONTEFALCO

      Santa Clara foi uma grande mística italiana que viveu uma experiência espiritual extraordinária e fascinante. 
         Nascida em Montefalco em 1268, já aos seis de idade, tocada pela graça divina, sentiu-se chamada a se dedicar inteiramente à causa da Igreja, fazendo-se reclusa por amor à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Apoiada pela irmã mais velha, Giovanna, que também se retirara do mundo, passou a tomar parte na vida conjunta de um grupo de moças reunidas num eremitério anexo à sua casa, construído por seu pai. A santidade da pequena Clara atraía sempre novas aspirantes ao êremo, desejosas elas também de seguir seu exemplo. Mais tarde, o grupo foi reconhecido canonicamente e se constituiu em mosteiro, assumindo a regra de Santo Agostinho e recebendo o nome de Mosteiro da Santa Cruz.        
         Aos 23 anos, com o falecimento da irmã Giovanna, foi Clara eleita unanimemente como abadessa, cargo que por sua grande humildade tentara recusar, mas que  assumiu e conservou até a morte.
          Suportando heroicamente um longo período de provações interiores em que se sentia totalmente abandonada por Deus, viu-se elevada à união mística com Cristo crucificado. Desde então, em meio a intenso trabalho apostólico, foi favorecida por inúmeros êxtases e visões de Nosso Senhor.
    Um dia, o próprio Cristo, fazendo-Se passar por um pobre peregrino, aproximou-se dagrade do locutório pedindo para conversar com ela, mas não quis se identificar. Clara fez o que era seu costume, atendeu ao desconhecido com toda a solicitude. O misterioso visitante, depoisde discorrer maravilhosamente sobre as Sagradas Escrituras, certamente à maneira do Mestre comos discípulos de Emaús, fez-se reconhecer, e à hora da partida quis presenteá-la com seu bastão.
       Clara recebeu o precioso regalo, e despedindo-se comovida do Peregrino, reuniu em seguida as irmãs, pedindo-lhes que plantassem aquele pedaço de madeira ressequida no jardim do mosteiro. As religiosas obedeceram, e em poucos dias o bastão reverdeceu, transformou-se numa bela árvore e floresceu com pétalas belíssimas, exalando um deleitoso perfume, não encontrável em todo o vale. Os frutos daquela nova planta, desde então até nossos dias, fornecem as sementes com que as religiosas fazem as contas dos terços do santo rosário, distribuindo-os aos inumeráveis visitantes do mosteiro. Consta que estes já ocasionaram numerosas curas.
         Em meio a suas dores, visões e êxtases, Clara se sentia incompreendida pelos confessores que a consideravam uma grande santa, quando, pelo contrário, ela se julgava humildemente uma grande pecadora, e por isso se entregava a duras práticas de penitência, castigando severamente sua carne com flagelações e cilícios. Por mais de dez anos ela foi assim provada,  mantendo entretanto inabalável a certeza de que Deus interviria e a enriqueceria com seus dons e virtudes.
No início de 1294, durante essa verdadeira noite escura do espírito, Nosso Senhor lhe concedeu o insigne privilégio de participar fisicamente de suas dores. Numa visão, Cristo apresentou-se caminhando, triste e abatido, com a cruz às costas, como quem estivesse de passagem. Ela se pôs de joelhos diante d'Ele, procurando evitar que continuasse aquela via dolorosa, e lhe disse: "Senhor, para onde ides?" Jesus respondeu: "Tenho procurado no mundo inteiro um lugar seguro onde possa plantar esta minha cruz e não consigo encontrá-lo". Condoída, fixando os olhos n'Ele, ela colocou a mão na Cruz, e exprimiu-Lhe o desejo que há anos tinha na alma, de compartilhá-la. Jesus, então, mostrando seu contentamento lhe diz: "Sim, no teu coração encontrei um lugar para plantar a minha cruz", e desapareceu. Clara, em meio a intensa dor, caiu desfalecida, e ao recuperar os sentidos passou a sentir a cruz em todo o corpo, em especial no coração, porque as marcas da Paixão tinham sido nele impressas pelo próprio Salvador.
          Apesar de doente, e sendo também favorecida pelo dom da ciência infusa, encontrava forças para receber no locutório bispos, teólogos, filósofos, literatos e pessoas de todas as classes sociais, que a procuravam para um conselho, ou a solução de problemas doutrinários e espirituais complicados. Todos saíam dali edificados com sua grande virtude e ciência.
          Malgrado toda essa atividade junto às mais variadas pessoas, jamais deixou a clausura. Suas palavras eram sempre de vida eterna. Ensinava que não se pensasse nada, não se dissesse nada e não se fizesse nada contrário à vontade divina.
          Uma vez por dia, às vezes várias, ela continuava a ter contatos místicos com Deus, através de êxtases e visões que habitualmente se referiam aos lances da vida de Jesus, à presença eucarística no mundo inteiro, ao juízo de Deus sobre as almas, à vida bem-aventurada dos santos no Céu, à justiça de Deus no universo. Gozava ainda de visões da Santíssima Trindade.
          Contemplava misticamente Deus trino nas Pessoas e uno na substância, em sua glória infinita.
          Nos últimos tempos de sua vida confidenciou: "Tenho Jesus Cristo crucificado dentro do meu coração".
           Segundo piedosa tradição, logo após sua morte, as irmãs, querendo conservar o corpo por mais dias à espera de outras religiosas que desejavam vê-lo, retiraram-lhe as vísceras. Mas no dia seguinte, lembrando-se das afirmações de Clara sobre a existência do crucificado em seu interior, abriram-lhe o coração e nele realmente encontraram o crucifixo, e as marcas da Paixão de Jesus: o flagelo, a coluna da flagelação, a coroa de espinhos, os cravos e a lança.
          Além disso, examinando a vesícula biliar de Clara se depararam com três esferas do tamanho de uma noz, perfeitamente iguais em dimensão, forma e peso, dispostas como um triângulo. Colocadas na balança, o peso de qualquer uma delas era igual ao de todas as três juntas.
          As freiras interpretaram este novo prodígio como uma manifestação de Deus pelo grande devoção que Clara sempre demonstrara para com a Santíssima Trindade.
          A notícia extraordinária se espalhou por toda a região. Na segunda-feira seguinte um frade franciscano, Frei Pietro di Salomono, antigo adversário das irmãs, as acusou ante Mons. Berengario, vigário da Diocese, de haverem elas intencionalmente promovido a farsa. O monsenhor se deslocou a Montefalco e reuniu teólogos, advogados e doutores para examinar o caso. A conclusão foi unânime: todos aqueles sinais não tinham explicação humana. Após esta comprovação, Mons. Berengario se tornou o principal biógrafo da santa.
          O corpo de Clara, entretanto, expedia tal fragrância que não foi possível enterrá-lo. Passados sete séculos, nunca se decompôs.


          As três esferas, bem como o crucifixo, estão expostos até hoje junto ao santo corpo, e o peregrino pode verificar com os próprios olhos a seriedade dos fatos aqui narrados.
          Embora inimitável em seus dons místicos pessoais Clara é um exemplo da inocência que Deus recolhe antes que o mundo perverso a corrompa. Nela podemos contemplar o puro amor e paixão voltados exclusivamente para Deus, o abandono total à vontade divina que Lhe permite moldar sua criatura à sua maneira, fazendo nela coisas extraordinárias.
          Em 1881 Clara foi canonizada solenemente pelo Papa Leão XIII.
Fontes:
- Mons. Riccardo Fontana, Arcebispo de Spoleto-Norcia (Carta do arcebispo aos jovens da diocese por ocasião da Páscoa de 2002)
- Dizionario di Mistica Borriello-Caruana-Del Genio-Suffi (Chiara da Montefalco)
- Libro:"Apparizione mariane", di M.Gamba, ed. Segno
- Enciclopedie dei Santi
- Assisi-Basilica Patriarcali de San Francesco - Sito Ufficiali della Basilica e del Convento
- Internet:  http: www.aciprensa.com       www.ar.geocites.com
                www.corazones.org/santos/clara_montefalco.htm

     
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               "Mãe do Céu, cura teu filho doente"


               Era uma rica família protestante da Inglaterra: marido, esposa e um filhinho paralítico do lado direito. Vieram passar as férias grandes numa praia ao sul da França. Na viagem de regresso tinham de passar perto do Santuário de Lourdes.
               O pai, protestante fanático, tem uma ideia fixa: não parar, de maneira nenhuma, nessa terra. Em Tarbes ele mesmo examina o motor do seu automóvel; quer ter a certeza de fazer a viagem diretamente até Biarritz, sem qualquer paragem. Transmite à família a sua decisão:
               --Nenhuma demora em Lourdes, terra de "superstições".
               O carro voa pelas bem cuidadas estradas francesas, até que, de repente, se ouve um ruído forte e seco: o automóvel estaca bruscamente a uns 100 metros do Santuário de Nossa Senhora!
               Acode imediatamente um mecânico experimentado, que dá a sentença: uma avaria exige dois ou três dias para reparação. A família inglesa aceita a carona do dono de um hotel de Lourdes, no qual se vai instalar.
               Tinham determinado não parar no Santuário de Maria Imaculada, e ei-los obrigados a demorarem aí três dias. Lição de Deus? Não, antes amoroso desígnio da sua Misericórdia.
               No dia seguinte, o doentinho inglês chamado John (João) está sentado no jardim do hotel, onde o colocaram, folheando a sua coleção de selos. A seu lado aparece a carinha fresca de um pequeno. É o filho do cozinheiro, que tem a mesma idade, o mesmo nome João (Jean) e a mesma paixão pelos selos. Com o à vontade próprio de crianças, diz ao seu companheiro:
               --Eu também tenho uma coleção de selos! Um missionário de Ceilão mandou-me um precioso, que te dou!
               Os pequenos tornam-se amigos e entendem-se à maravilha. Falavam em francês, pois o inglezinho, muito esperto, tinha aprendido essa língua. Jean fica a saber que John consultou os mais afamados especialistas, sem conseguir a cura. Dos milagres de Lourdes, nunca tinha ouvido falar.                                                                                                                                         
           -- Porque não te levam à gruta? Nossa Senhora faz lá tantos milagres, que também te podia curar.                                                                                                              
           O coração do menino rico, afeito à terrível doença, dilatou-se com a esperança. Nos seus olhos clareia um fiozinho de alegria. Havia remédio para a sua doença e talvez se pudesse curar.
           Mas... objeta, tristemente:
           -- O meu pai não me dá licença de ir à gruta.
           -- Vai ter com a tua mãe e pede-lhe com todo o empenho.
           O inglezinho bem sabia que era inútil insistir com o pai. Na manhã seguinte, o menino francês pergunta ao colega:
            -- Já pediste licença à mãe? Porque te não levam à gruta?
            -- O meu pai não deixa; diz que são tudo mentiras dos católicos.
            O esperto filho do cozinheiro, descobre a solução.
            -- Não te preocupes! Acordas às cinco da madrugada; eu venho buscar-te no carrinho de mão, da cozinha. Sobes, pões as muletas em cima e eu levo-te à gruta. À hora de levantar já estamos de volta no hotel, sem que ninguém tenha dado conta. Queres?
            -- Quero sim. Que bom! - rejubila o aleijadinho.
            -- Não digas nada aos teus pais! Entendido? Olha, mas é preciso rezar! Sabes rezar?  
            -- Não ...
            -- Pega neste terço e vai-o passando pelos dedos. Nas contas grandes dizes tu sozinho: "Mãe do Céu cura o teu filhinho doente"; nas contas pequenas, dizemos os dois: "Ave Maria... Ave Maria". Podes rezar em inglês, porque a Senhora entende.

           Cinco da madrugada. Na frescura da manhã de Setembro, um carro de mão empurrado por um garoto vivo e esperto desliza pela rampa em direção à gruta de Lourdes. No carrinho, outro pequeno, de aspecto triste, com pijama azul. Chegam à gruta. O francês tira do carro o companheiro doente, apoiado nas muletas. O infeliz vai rezando constantemente a singela oração que lhe ensinou o filho do cozinheiro: "Mãezinha do Céu, cura o teu filhinho doente!".  Sente-se comovido e quase tem vontade de chorar... Um sacerdote começa no altar a Santa Missa. Os dois pequenos estão de pé, contra o costume de John. À consagração, o francês diz baixinho ao colega: 
               --- Agora tens que pôr-te de joelhos...Ajoelha-te ...              
               E sem se dar conta do que fazia, o doente ajoelha-se, coisa que nunca tinha podido fazer.                                                                                   
               Acaba a Missa. Jean, como quem tinha previsto tudo, diz com a máxima naturalidade:
               -- Rápido; traz as muletas, coloque-as no carro, que eu levo-te para casa...
               John levanta-se, dá um passo, dois... três...
               -- Já posso andar, Jean!
               Este, espantado com a admiração do amigo, diz-lhe:
               -- Pois é claro; já lhe tinha dito!
               Que milagre verdadeiro tão doce e encantador! Que página cheia de graça e beleza! Os dois pequenos lançam à branca Senhora um beijo e voltam para o hotel, como tinham previsto.
               -- Não digas nada, ouviste? Vais ver que surpresa!
               Mas a surpresa foi para eles. O senhor inglês, ao encontrar a cama vazia, alarmou-se de tal forma, que todo o hotel andava em alvoroço, à busca de John...
               Naquele momento os dois "fugitivos" entram pela porta.
               O inglês ficou pasmado ao ver o filho de pijama e a andar sem muletas!

               Para isso é que Nossa Senhora fez com que o automóvel parasse em Lourdes. Amorosos desígnios de Deus e de sua Mãe!
                                                                           Revista "Cruzada" - Portugal



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Dom Bosco e os trezentos jovens detentos na penitenciária

          

               No mês de Maio de 1855, Dom Bosco havia pregado um retiro espiritual a trezentos jovens detentos, na penitenciária “La Generale”, ao norte da Itália.
                Ele teve a satisfação de ver todos os prisioneiros à mesa da Comunhão na cerimônia de encerramento.
         Dom Bosco ficou tão comovido que resolveu proporcionar-lhes uma surpresa extraordinária, totalmente inesperada.
               Foi falar com o diretor do presídio para alcançar um dia de passeio com os penitentes!
               O  diretor ficou  estupefacto com o audacioso pedido e lhe respondeu que tal permissão competia ao Ministro do Interior da Itália.
               Dom Bosco submeteu seu pedido a esse Ministro de Estado, que lhe respondeu com um rotundo “impossível”.
               Nosso santo, entretanto, não desistiu do seu intento, e argumentou com convicção: “Depois deste retiro espiritual os jovens detentos estão agora na melhor das disposições de alma e hão de obedecer-me inteiramente. Nenhum deles abusará da minha confiança. Acredite-me, Sr. Ministro”.
               E o incrível se realizou. O Ministro Ratazzi deu o consentimento.
               Trezentos detentos saíram da cadeia e, sob a direção de Dom Bosco, empreenderam uma agradável e distendida excursão recreativa ao Parque de Itupinigi, distante algumas horas da cidade.
               A alegria resplandecia em todos os rostos. Todos rodeavam Dom Bosco e os olhares convergiam para ele, repassados de confiança e admiração pelo seu benfeitor.
               Nenhum deles faltou à promessa que na véspera fizeram ao sacerdote-guia: ninguém fugiu e nem tentou evadir-se.
               E no fim do dia, todos sem exceção, voltaram à penitenciária.

               Este edificante episódio patenteia  o poder que Deus concedera a seu fiel servo Dom Bosco. Poder sobre as almas
               Além disso, demonstra que a Religião é uma escola de obediência e disciplina.

                                                         “A Catequese”, ilustrada pela Bíblia e com exemplos.
                                                                                   Pe. Miguel Méier, S. J.  -  Edições Paulinas



                          Nossa Senhora da Confiança

                            Confiança! Confiança! Eu venci o mundo!  (Jo 16, 33)
    Quando a palavra confiança era pronunciada por Nosso Senhor Jesus Cristo, operava nos corações uma profunda e maravilhosa transformação., diz um sábio escritor. A aridez das suas almas era umedecida por um orvalho celestial, as trevas de seus espíritos se transformavam em luz, a angústia era substituída por uma calma serenidade.
    O mesmo convite que Nosso Senhor fazia outrora aos seus ouvintes, repete hoje a nós. Confiança! Como essa virtude é necessária nos dias de hoje!
    Como estão equivocadas as almas que, sentindo suas deficiências e misérias, mal ousam aproximar-se do Divino Salvador, com receio de que um Deus tão puro, tão excelso não se inclinaria para elas, não perdoaria suas faltas!
      Deus é Misericórdia, e desde que desejemos sinceramente converter-nos, Ele tem pena de nossa miséria, e de nós se aproxima para salvar-nos, para nos colocar junto ao seu Sagrado Coração. Mais ainda: quis nos dar um meio de experimentarmos a bondade do modo mais eloqüente possível em termos humanos, que é o carinho materno. Do alto da Cruz, no momento mesmo de entregar sua alma ao Pai, deu-nos sua própria Mãe para ser também nossa Mãe. .Mulher, eis aí o teu filho. (...) Filho, eis aí a tua Mãe!. (Jo 19, 26-27). Como explica a Igreja desde seus primeiros séculos, em São João estava representada toda a humanidade.
     Esse dom inenarrável de sermos, também, filhos da Mãe do Céu, nos facilita igualmente a prática da virtude da confiança.
     Essas reflexões nos trazem à lembrança uma belíssima pintura de Nossa Senhora da Confiança - a Madonna della Fiducia -  venerada na Cidade Eterna, na capela do Pontifício Seminário Romano, vizinho à famosa Basílica de São João de Latrão.
    A devoção a Nossa Senhora da Confiança surgiu na Itália há quase três séculos, vinculada à venerável Irmã Clara Isabella Fornari, monja clarissa falecida em 1744, e com processo de beatificação em andamento.
Abadessa do mosteiro da cidade de Todi, a Irmã Clara foi privilegiada por Deus com graças místicas, entre as quais a de receber em seus membros os estigmas da Paixão.
     Nutrindo uma devoção muito particular à Mãe de Deus, portava sempre consigo um milagroso quadro que A representa com o Menino Jesus nos braços. A essa pintura se atribuíam graças e curas muito numerosas, e já no século XVIII começaram a circular pela Itália cópias dela, dando origem à devoção à Santíssima Virgem sob o título de Mãe da Confiança.
      Uma das cópias acabou por se tornar mais célebre que a original. Foi ela levada para o Seminário Maior de Roma . o principal do mundo, por ser o seminário do Papa, de onde se tornou padroeira. Todos os anos é venerada pelo próprio Pontífice, que vai visitá-la na festa da .Madonna della Fiducia., em 24 de fevereiro.
     Desde cedo, Nossa Senhora mostrou aos seminaristas que, se recorressem a Ela sob a invocação de Nossa Senhora da Confiança, podiam contar com seu auxílio nas piores situações.
     Nesse sentido, entre os fatos prodigiosos mais insignes contam-se as duas vezes (1837 e 1867) em que uma epidemia de cólera atingiu a Cidade Eterna, mas o Seminário Romano foi milagrosamente poupado pela poderosa intercessão de sua Padroeira. Além disso, na Primeira Guerra Mundial, cerca de cem seminaristas foram enviados à frente de batalha, e colocaram-se sob a especial proteção da .Madonna della Fiducia.. Todos retornaram vivos, o que atribuíram à proteção da Santíssima Virgem. Em agradecimento, entronizaram o venerável quadro numa nova capela de mármore e prata.
    Quando o famoso quadro do Seminário Romano ali chegou, vinha acompanhado de um antigo pergaminho, que ainda se conserva, o qual traz consoladoras palavras da Irmã Clara Isabel:

    A divina Senhora dignou-Se conceder-me que toda alma que com confiança se apresentar ante este quadro, experimentará uma verdadeira contrição dos seus pecados, com verdadeira dor e arrependimento, e obterá de seu diviníssimo Filho o perdão geral de todos os pecados. Ademais, essa minha divina Senhora, com amor de verdadeira Mãe, se comprouve em assegurar-me que a toda alma que contemplar esta sua imagem, concederá uma particular ternura e devoção para com Ela.

    A devoção à Madonna della Fiducia. mostra-se particularmente benéfica quando se reza a jaculatória: Minha Mãe, minha confiança! (Mater mea, fiducia mea!).
      Muitos são aqueles que se fortalecem na confiança, ou a recuperam, apenas por contemplar essa bela pintura, sentindo-se inundados pelo olhar maternal, sereno, carinhoso, encorajador da Rainha do Céu.
    E o divino Menino, também fitando o fiel, aponta decididamente o dedo indicador para a Santíssima Virgem, como a dizer: Coloque-se sob a proteção d.Ela, recorra a Ela, seja inteiramente d.Ela, e você conseguirá chegar até Mim.


                  A alegria de um sacerdote

 
                 Ao terminar a costumada visita aos paroquianos doentes, quando entrava na igreja o jovem padre vê uma senhora vir  ao seu encontro:
     -- Senhor Prior, venha a casa de um homem que está muito doente! Ele retornou da África há pouco tempo. É contra a Religião e até diz que não o receberá, mas venha! Ninguém me pediu para o chamar, mas o senhor é sacerdote e ele é uma alma para salvar.
     Um paroquiano que ouviu a conversa intrometeu-se: -- Ora, Senhor Padre, lá o senhor não vai conseguir fazer nada. Não vale a pena incomodar-se, pois já é quase noite e está a cair neve. Vá para a casa paroquial descansar.
     Ao padre nem pareceu  ter ouvido a sugestão do paroquiano. E disse: -- Eu vou agora mesmo, pois  receio não dar tempo de  atender o pobre homem. Vou cumprir  meu dever! - respondeu prontamente o sacerdote, que pôs toda a confiança em Deus.
     Depois de dura caminhada noturna chegou e entrou numa casa miserável. O ar era irrespirável. Numa cama perto da lareira o doente  tossia forte e quase ao desespero. A seu lado, a idosa mãe lhe fazia companhia, agasalhada num cobertor. 
     Ao ver o sacerdote a mulher levantou-se muito surpreendida e o homem doente, ainda com ar de rapagão, muito zangado, gritou-lhe:
     -- Que veio fazer aqui? Vá-se embora, eu não preciso de você. E deu-lhe as costas.
     -- Meu amigo, -- respondeu calmamente o Pároco - acabo de visitar todos os meus doentes e como soube que estava de cama, vim vê-lo também. Venho com muito gosto e sem más intenções. Vejo que ficou um pouco aborrecido, mas apesar de tudo, voltarei amanhã. Virei todos os dias rezar com você enquanto estiver doente. Muito boa noite!
     A mãe saiu com o jovem sacerdote e disse-lhe:
     -- Senhor Padre, não se zangue. Ele não é tão mau como parece. Isto foram as más companhias em África. E agora com essa doença... compreende? Por favor, não o abandone.
     Começou então para o sacerdote  outra  grande  prova da sua vida. A salvação dessa alma. Anos mais tarde ele recordaria tudo isso com muita alegria, pois as provas mais duras são as que deixam recordações mais consoladoras.
     Visitar o pobre doente todos os dias, percorrer o mesmo trajeto, longo, alguns dias debaixo de chuva e trovoadas, para só ouvir insultos daquela boca doentia, sem uma palavra de agradecimento. . . Que tormento! Que escola de paciência!
                 Depois de ouvir sabe lá o quê, o sacerdote descia a encosta, pedindo à Virgem Maria, Refúgio dos Pecadores, que tivesse pena daquela alma. Quantas vezes ele soluçava a meia voz e repetia: "Ó Maria, Vós sois a melhor das mães, que socorre sempre os seus filhos tão necessitados. Desde que estou no mundo, quando minha mãe  me ensinou a pronunciar vosso nome nas horas difíceis, eu tenho recorrido com confiança a Vós, e sempre fui atendido. Peço-vos então por esta alma endurecida pelo orgulho, não para mim, mas para Jesus e para Vós. E  como sou vosso instrumento, farei a vossa vontade. Amem."
   Depois de rezar esta oração sentia grande paz e compreendia que aquelas palavras de Jesus a Pedro: "Vai, meu filho, vai. Compreenderás tudo mais tarde" eram também para si.
   Já tinha feito vinte e cinco visitas, algumas sem conseguir entrar na casa. Neste dia quando chegou à aldeia disseram-lhe:
   -- Senhor Padre, ele está muito mal, está mesmo a morrer!
   O sacerdote, confuso, quase nem tinha coragem de bater à porta, onde parou, indeciso. Mas resolveu-se a cumprir seu dever de pastor das almas. Bateu, entrou e aproximou-se do leito. Como sempre, o doente virou-se de costas em sinal de desprezo pela presença dele. O Pároco não desistiu e disse-lhe pertinho com um tom carinhoso:
   -- Meu amigo, chegou a hora final de pensar na sua alma. Estou aqui para ajudá-lo!
   Cena horrorizante: o moribundo começa a estrebuchar e insulta-o aos gritos. Depois de uma pausa, acrescentou:
   -- Estou mesmo morrendo. Mas ainda tenho forças para pegar um pau e dar-lhe uma pancada na cabeça!
               O sacerdote aproximou-se do rapaz, senta-se junto aos pés dele e diz:
   -- Aqui você me tem mais de jeito para bater. Faça como quiser.
   O homem calou-se, espantado, e o pároco continuou:
   -- Amanhã a esta hora estarei aqui para o confessar e você há de fazê-lo.
   Saiu pedindo a Nossa Senhora que não abandonasse aquela alma. No dia seguinte, pela vigésima sétima vez entrou na casa.
   Maravilha! Encontrou o doente completamente mudado. O padre sentou-se a seu lado e começou a rezar alto e lentamente, despertando nele sentimentos de verdadeira contrição e depois disse:
   -- Deus Nosso Senhor e a Virgem Maria estão aqui no meio de nós. Não tenha receio, será muito simples. Eu vou fazer perguntas às quais responderá apenas sim ou não.
   À medida que a confissão avançava, as lágrimas do penitente aumentavam. O padre pediu a Deus que lhe desse um sinal comprovativo das boas disposições desta alma. Neste momento o homem começou a falar:
   -- Senhor Padre, quero pedir-lhe uma coisa, Deus vai perdoar-me, mas o senhor perdoe-me também. Tratei-o como se trata um cão. Quis bater-lhe, matá-lo e apesar de tudo o senhor sempre voltou. Percorreu mais de 300 quilômetros para me ver todos esses dias. Eu fiz a conta. A sua caridade me fez pensar. É um homem sério que acredita no que diz. O senhor perdoa-me?
   Cheio de compaixão o sacerdote respondeu:
   -- Cem vezes, se for preciso! Agora diga comigo o Ato de Contrição.
   No fim da confissão e com um esforço enorme o moribundo conseguiu pôr-se de pé e abraçou o pároco. Meia hora depois recebeu Unção dos Enfermos e o Sagrado Viático. No dia seguinte à noite partiu para a casa do Pai. Morreu tranqüilo.
   Quando o franzino sacerdote desceu a encosta, a sua alma cantava como nunca. Agradecia a Nossa Senhora e aprendia por experiência duas verdades:
   -- que só Deus converte;
   -- que Nossa Senhora é toda-poderosa quando suplica a Deus.

   Este caso, acontecido há mais de cem anos em França, veio traduzido e relatado na revista "Irmã Maria", órgão da Causa de Beatificação e Canonização da Beata Maria do Divino Coração.
                                                                                   Revista "Magnificat" - Braga - Portugal


NATAL, NATAL

Quem inventou a árvore de Natal?


           O inventor da árvore de Natal foi São Bonifácio, o apóstolo dos germanos ou evangelizador da Alemanha. Ele nasceu em Inglaterra em 672 e faleceu martirizado em 5 de Junho de 754. O seu nome religioso, em latim Bonifacius, quer dizer “aquele que faz o bem”, e retoma o mesmo significado do seu nome saxão Wynfrith. Em 718 ele esteve em Roma e o Papa Gregório II enviou-o à Alemanha, com a missão de reorganizar a Igreja. Por cinco anos ele evangelizou territórios que hoje fazem parte dos estados alemães de Hessen e Turíngia. Em 722, foi feito bispo dos territórios da Germânia e, um ano depois, inventou a árvore de Natal, causando um certo impacto no meio ambiente germânico.

Quando surgiu a árvore de Natal?          
            Em 723 São Bonifácio derrubou um enorme carvalho dedicado ao deus Thor, perto da actual cidade de Fritzlar, na Alemanha. Para convencer o povo e os druidas de que não era uma árvore sagrada, ele abateu-a. Esse acontecimento é considerado o início formal da cristianização da Alemanha. Algum dia estudarão o impacto ambiental da evangelização: na queda o carvalho destruiu tudo que ali se encontrava, menos um pequeno pinheiro. Segundo a tradição, Bonifácio interpretou esse facto casual como um milagre. Era o período do Advento e, como ele pregava sobre o Natal, declarou: “Doravante, nós chamaremos esta árvore de Árvore do Menino Jesus”. O costume de plantar pequenos pinheiros para celebrar o nascimento de Jesus começou e estendeu-se pela Alemanha e de lá para o mundo, dizem.

Para que tanto enfeite na árvore de Natal?
             A tradição católica assimilou a árvore de Natal com uma nova árvore da vida, aquela do jardim do Éden, lá no Paraíso (Gn 2,9). É costume enfeitá-la com bolas coloridas, como se fossem frutos, e com outros adornos natalinos. 
            Os enfeites alegorizam desejos, virtudes, vínculos e sonhos das pessoas e da cada onde está a árvore de Natal. Já no tempo de São Bonifácio, as árvores de Natal eram enfeitadas com maçãs, evocando a nova frutificação e o antigo pecado original. Ao contrário da história do Éden sobre a serpente e a maçã (do latim: malum), a árvore de natal passou a evocar vida e salvação, plantada nas casas. As árvores também eram decoradas com velas, representando Nosso Senhor Jesus Cristo, a Luz do mundo. 
             O costume difundiu-se pela Europa. Uma das primeiras registadas dos enfeites é do século XVI e vem da Igreja da Alsácia, na França. As famílias decoravam os pinheiros com papéis coloridos, enfeites, frutas e doces. Espalhada por toda a Europa, a tradição de enfeitar a árvore de Natal chegou ao continente americano por volta de 1800.

Qual o simbolismo das bolas?


          Desde o século VI, a tradição da árvore de Natal evolui: trocaram-se as perecíveis maçãs da árvore do Éden por bolas e enfeites, como sinal dos frutos da vida. As tradições familiares variam. Alguns colocam 12 bolas ou múltiplos de doze para evocar os doze apóstolos. Outros colocam 33 bolas, para lembrar os anos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outros adornam progressivamente a árvore de Natal com 24 a 28 bolas, dependendo do número de dias do Advento (do latim, Adventus: chegada). Outros ainda adornam a árvore de uma só vez. Às vezes,as crianças elaboram suas próprias bolas. Em outras famílias, as bolas são colocadas com uma oração ou um propósito em casa uma, até o dia de nascimento de Nosso Senhor. Para certas ordens religiosas, as bolas representam as orações do período do Advento: as azuis são orações de arrependimento, as prateadas de agradecimento, as douradas de louvor e as vermelhas de prece.

Por que as bengalas, os 3 sinos e os 7 anjinhos?
   

             Os enfeites da árvore de natal são um espaço de liberdade, arte e poesia para a criatividade familiar. Alguns são tradicionais e merecem destaque. Os 3 sininhos simbolizam a Santíssima Trindade e também costuma adornar a guirlanda do Natal, na entrada das casas. Os 7 anjinhos representamos espíritos angélicos, os anjos dos pequeninos diante de Deus,contemplando e intercedendo por todos (Mt 18,10). As bengalinhas evocam a caminhada, o trabalho de cada um e também o pastoreio de Nosso Senhor, o cajado do Bom Pastor. Também colocam-se pequenos e bonitos pacotinhos e presentinhos dependurados na árvore ou aos seus pés. Eles representam as boas acções e os sacrifícios, os "presentes" que serão dados a Nosso Senhor Jesus Cristo no Natal.

Quem inventou o presépio?
 

            Foi São Francisco de Assis quem armou o primeiro presépio da história, na noite de Natal de 1223, na localidade de Greccio, na Itália. Ele é o inventor do presépio, mas nunca cobrou direitos de autor, nem de propriedade intelectual. São Francisco de Assis quis celebrar o Natal da forma mais realista possível e, com a permissão do Papa, montou um presépio de palha, com uma imagem do Menino Jesus, da Virgem Maria e de José, juntamente com um boi e um jumento vivos. Nesse cenário, foi celebrada a missa de Natal. O costume espalhou-se pela Europa e daqui pelo mundo. A Igreja Católica considera um bom costume cristão armar presépios no período do Natal nas igrejas, casas e até nas praças e locais públicos.

Qual o simbolismo das cores do Natal?
            O verde, o vermelho e o dourado são as cores dominantes no Natal. O verde é símbolo primaveril de renovação, esperança e regeneração. O verde das plantas capta a energia solar e pelo processo da fotossíntese e a transforma em energia vital. O vermelho está ligado ao fogo, à redenção e ao amor divino. O dourado também é utilizado e está associado ao sol, à luz, à sabedoria e ao Reino vindouro. Para a tradição católica há uma relação entre essas três cores e os presentes dos Reis Magos: ouro (dourado), incenso (vermelho) e mirra (verde).

Qual o significado da guirlanda na porta?
            Um dos sinais mais visíveis do Natal é a guirlanda, colocada na porta de entrada das casas, feito uma coroa. Essa guirlanda circular é feita de ramos vegetais entrelaçados e enfeitados com fitas, sinos e objectos  O entrelaçamento desses dois ramos simboliza o Mistério da Encarnação do Verbo Divino. Deus se fez carne e habitou entre nós. Ele tomou corpo humano. Para os católicos, Jesus Cristo é verdadeiro  Deus e verdadeiro homem. As duas naturezas, divina e humana, se entrelaçaram, como dois ramos que se buscavam num mesmo jardim.

Por que a guirlanda do natal é verde?
             O verde é a cor da esperança. No Hemisfério Norte, de clima temperado, o Natal ocorre em pleno inverno. Com o frio, a vegetação perde as folhas. As únicas árvores verdes são os pinheiros (usados na árvore de Natal) e arbustos de folhas coriáceas (usados na guirlanda). Alguns ainda apresentam, em Dezembro  pequenos frutos vermelhos. Eles não caem e permanecem nos ramos. Essas plantas secam sem murchar, e ao secar não perdem a cor verde ou os frutos e mantém a vivacidade. Algumas são conhecidas como sempre-vivas ou sempre-verdes. Muitas vezes as guirlandas são entrelaçadas com fitas vermelhas, sinal colorido de frutificação. Os detalhes dourados prefiguram a glória do Reino futuro.

Qual o significado das coroas
               A guirlanda, a Coroa do Advento, as coras de flores, todas significam: vitória. Nomes como Estéfano, Estêvão e Stefane, por exemplo, vem do grego stephanos, coroa, e evocam uma vitória, um coroamento. Antes, o nome designava a coroa de louros, símbolo da vitória de atletas e guerreiros, ainda entregues no dia de hoje aos vencedores de automobilismo, hipismo e,especialmente, nas Olimpíadas. Com o sacrifício do primeiro mártir do cristianismo, Santo Estêvão  ela passou a significar a coroa do martírio ou do testemunho (At 7,54-60). A guirlanda do Natal representa um coroamento do lar, da família, da sua união e do fim do ano.

Dá para coroar o tempo?
 

            Dá. E o católicos gostam de coroar o tempo. A Coroa do Advento, um outro símbolo natalino, é feita de ramos entrelaçados. Eles formam um círculo, no qual são colocadas quatro grandes velas, de preferência de cor roxa (cor do tempo litúrgico). Elas representam as quatro semanas do Advento, o Tempo do Natal. Nas igrejas, essa coroa deve ser colocada em um lugar evidente no presbitério, bem perto do altar ou do púlpito, sobre uma mesinha, um tronco de árvore ou em qualquer outro lugar bem visível. Essa colocação é recomendada até pelo Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo de Roma. Nas casas, a Coroa do Advento costuma ser colocada numa mesa da sala ou num lugar bem central.

Como acender a Coroa do Advento?
            Além do uso de fósforo ou isqueiro, um rito natalino acompanha a Coroa do Advento: a ordem do acendimento das suas velas. A cada domingo, em geral à noite, uma vela é acesa. No primeiro domingo uma, no segundo duas, até serem acesas as quatro velas no quarto domingo. Essa luz nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo Salvador e Luz do mundo brilhará para toda a humanidade. A cor roxa das velas, a mesma do período da Quaresma, convida a purificar os corações para acolher o Cristo que vem. Às vezes existem coroas com velas de cor rosa. Elas evocam a alegria: o Senhor está próximo. Os detalhes dourados, como em todos os áureos símbolos natalinos, prefiguram a glória do Reino que virá.

Onde surgiu a tradição da Coroa do Advento?
            A tradição da Coroa do Advento surgiu no norte da Alemanha e na Escandinávia, no século XVI, para preparar os católicos para a Festa de Natal, quatro semanas depois. Na Suécia, a Coroa do Advento é reservada para a Festa de Santa Luzia no dia 13 de Dezembro. Do norte da Europa, o costume ganhou o mundo com uma nova maneira de actualizar o antigo tema do Natal de Jesus.

Qual o simbolismo das quatro velas?
            Ao ser colocada na casa, a Coroa do Advento aparece sem luz e sem brilho. Para os católicos, ela recorda a experiência de escuridão do pecado. A primeira vela lembra o perdão concedido a Adão e Eva. A segunda simboliza a fé de Abraão e dos outros patriarcas, a quem foi anunciada a Terra Prometida. A terceira lembra a alegria do Rei Davi que recebeu de Deus a promessa de uma aliança eterna. A quarta recorda os profetas que anunciaram a chegada do Salvador.

Por que meias e sapatos na janela no dia de Natal?
 

            A tradição de pendurar meias na lareira ou deixar sapatos na janela, originou-se de uma das muitas histórias sobre São Nicolau, em quem se inspirava a figura do pai Natal. No passado, para uma moça era indispensável era indispensável dispor de um dote para se casar. São Nicolau soube da triste situação de uma família, sem o recurso para o dote das filhas. Secretamente, ele jogou três pequenos sacos com moedas de ouro pela chaminé da casa da família. Os sacos caíram dentro das meias das moças, pendurados na lareira para secar. Em outras versões foi pela janela, e caíram dentro de uns sapatos. Enfim, São Nicolau era generoso e bom de arremesso.

Papai Noel era turco?
 
           
            Era. O rechonchudo Papai Noel é amado por crianças e adultos, com as suas barbas e cabelos brancos, óculos redondos e um saco às costas. O personagem do Papai Noel foi inspirado em São Nicolau Taumaturgo, arcebispo de Mira, no século IV. São Nicolau nasceu em 280 em Patara (Patras), na actual Turquia, e morreu aos 41 anos. Ele acostumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Bondoso e generoso, nas várias histórias a seu respeito, São Nicolau sempre oferecia presentes aos pobres e salvava marinheiros vítimas de tempestades. "Um certo nobre, seu vizinho, pensou em prostituir as suas três filhas virgens por falta de recursos, para, com o infame comércio delas, se poder sustentar. Quando o santo homem soube, ficou horrorizado com o crime e atirou uma quantidade de ouro envolvida num pano através de uma das janelas da casa onde ele morava e regressou à sua às escondidas.
            Foi declarado santo após muitos milagres lhe serem atribuídos. São Nicolau também tornou-se padroeiro das crianças e dos marinheiros. E ao Papai Noel as crianças passaram a pedir os presentes com antecedência, para ganhá-los no Natal.

Porque a troca de presentes no Natal?
            

            O costume de dar e trocar presentes é o resultado de vários aspectos ligados ao nascimento de Nosso Senhor. Pelo Mistério da Encarnação, Deus se fez presente. Dar presente é uma forma de estar presente na vida do outro. Esse gesto evoca a presença dos Reis Magos junto a Cristo e à Sagrada Família, entregando presentes. O presente é uma lembrança, é um lembrar-se do outro, mesmo quando é uma "lembrancinha". A compra de presentes, a mobilização do comércio e os apelos ao consumo, aliado a disponibilidade do 13º salário e vários outros mecanismos, deram um impulso consumista e nada católico ao Tempo do Natal.

Quem inventou a flor do Natal?
 
            
            Em primeiro lugar a natureza. Em segundo lugar, esse símbolo vegetal não vem dos astecas e sim dos franciscanos, especialistas em criar novidades para o Natal. A partir do século XVII, no México, a flor da poinsétia começou a ter um significado natalício. Os frades franciscanos utilizaram-na em comemorações natalinas e associaram as formas de suas brácteas vermelhas à estrela de Belém. A planta é muito utilizada para fins decorativos na Europa e América do Norte, especialmente no Natal. Como é um planta de dia curto, floresce exactamente no solstício de inverno e coincide com o Natal no Hemisfério Norte. 



        Existe mesmo Papai Noel? Um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, toda criança faz esta pergunta. E os pais podem responder facilmente a seus filhos, contando-lhes a bela vida de São Nicolau.

           Aproxima-se o Natal! Nos centros comerciais vê-se freqüentemente um personagem com trajes de cores vivas, despertando a curiosidade geral e, nas crianças, a alegre expectativa dos presentes e das guloseimas.
        É o Papai Noel. Como surgiu essa tradição? Na realidade, existiu uma pessoa muito mais importante do que o lendário Papai Noel. Foi São Nicolau, Bispo de Mira, na Turquia, falecido em 324.
        Este grande Santo é apresentdo indo de casa em casa, levando presentes para as crianças piedosas e bem comportadas. Narrando aos filhos sua bela vida, os pais despertam nas almas infantis o senso do maravilhoso e estimulam a prática da virtude. Com a vantagem de que, neste caso, a realidade supera a lenda.
            Poucos santos gozam de tanta popularidade, e a poucos são atribuídos tantos milagres.    Nicolau era bastante jovem quando perdeu seus pais, herdando deles uma imensa fortuna que lhe possibilitou praticar a caridade em grande escala.
           Um dia, soube de três moças que, por serem pobres, não encontravam pretendentes para casamento, e o pai pretendia encaminhá- las para uma má vida. Nicolau foi, então, de noite, e atirou para dentro do quarto do homem uma bolsa com moedas de ouro. Poucos dias depois, casava-se a filha mais velha. Repetiu Nicolau o gesto e, logo após, casava-se a segunda filha. No momento em que ele se preparava para atirar pela terceira vez o dinheiro, foi descoberto. Sao Nicolau saindo das sombras onde estava escondido, o pai lançou-se aos pés de seu benfeitor, chorando de arrependimento e gratidão. Desde então, não se cansou de apregoar por toda parte os favores recebidos.
           Em outra ocasião, ao embarcar em um navio, avisou ao comandante que teriam violenta tempestade pelo caminho. O velho lobo-do-mar recebeu com irônico sorriso essa previsão de um simples passageiro. A tempestade, porém, não tardou. E tão terrível que todos acreditaram ter chegado o seu fim. Ao saberem que um passageiro havia previsto o que estava acontecendo, correram para ele, pedindo socorro. Nicolau rogou a Deus, e logo cessou a tempestade, acalmou-se o mar e o sol apareceu resplandecente... Tornou-se, assim, o patrono dos marinheiros, que o invocam nos momentos de perigo.
          São Boaventura narra que em uma estalagem o dono havia assassinado dois estudantes para se apoderar de seu dinheiro. Horrorizado por esse hediondo crime, São Nicolau ressuscitou os jovens e converteu o assassino.
          No dia em que foi sagrado Bispo de Mira, mal acabara a cerimônia, uma mulher atirou-se a seus pés, com um menino nos braços, suplicando: "Dai vida a meu filhinho! Ele caiu no fogo e teve morte horrível. Tende pena de mim. Dai-lhe a vida!" Emocionado e compadecido das dores daquela mãe, fez o sinal-da-cruz sobre o menino que ressuscitou na presença de todos os fiéis presentes à cerimônia de sagração.
         Em alguns países da Europa, é costume as pessoas trocarem presentes no dia de sua festa, 6 de dezembro. A nós, também, São Nicolau não deixará de atender em nossas necessidades.
          Peçamos-lhe, pois, não apenas os bens materiais, mas, sobretudo, grandes dons espirituais. Que ele obtenha da Santíssima Virgem e de São José a graça de, neste Natal, nascer em nossas almas
o Menino Jesus - o maior presente dado aos homens - a fim de chegarmos à Pátria celeste, para a qual fomos criados.                                
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2003, n. 24, p. 36-37)



0 BOM FRUTO QUE O PRÓPRIO JESUS PEQUENINO ACEITOU DAS MÃOS DE UM MENINO POBRE, MAS MUITO DEVOTO


               Nada há mais comovedor do que a lenda do pequenino predileto da Virgem Mãe e do Menino Jesus, o bem-aventurado Hermano José. Menino de maravilhosa pureza de coração, fugia com maior cautela de companheiros mal educados e de jogos ruidosos.
                   Pelo contrário, em parte alguma gostou mais de estar do que na Igreja, e as suas delicias particulares eram: orar diante das imagens da Mãe de Deus, que já de tenros anos tinha escolhido por Mãe sua.
               Ainda hoje se mostra em Colônia, na Igreja de Santa Maria do Capitólio, o lugar onde, segundo uma piedosa tradição, com filial singeleza conversava com o Menino Jesus a sua Mãe. Alí saudava a Maria, quando ia para escola; ali se retirava, enquanto os seus condiscípulos jogavam,ou se entregavam a alguns brinquedos próprios da idade.
             Uma vez levava Hermano consigo uma formosa maçã. Eis que lhe vem a idéia de a oferecer ao Menino Jesus. Estende a mãozinha para a imagem e - Oh! prodígio! a maçã é apanhada.
              Outra vez - era inverno - apareceu o pobre menino descalço diante da imagem e ajoelhou-se para orar, a tremer de frio! Nisto pergunta-lhe Maria: "Hermano por que andas descalço, com tamanho frio?" - ao que ele respondeu: "Não tenho sapatos." Então Maria apontou-lhe para uma pedra e disse: "Vai àquela pedra acolá e encontrarás o dinheiro que precisas; e quando para o futuro te faltar alguma coisa, vai sempre lá procurar com toda confiança."
            Quando os outros meninos advertiram que Hermano encontrava dinheiro naquele lugar, também começaram lá a fazer buscas mas, como não eram tão puros nem tão bons como ele, como não tinham grande amor a Maria, não encontraram nada. O dinheiro estava só para Hermano.
                A sua pureza era tamanha que mais tarde, quando tomou hábito no convento de Steinfeld, ao seu nome de Hermano juntaram o do Esposo Virginal de Maria, e ficou-se chamando desde então Hermano José.

Pe. Adolfo de Doss, "A Pérola das Virtudes"
    
ATENÇÃO: 
HÁ OUTRAS HISTÓRIAS DE NATAL LOGO ABAIXO.



                “Mãe do Céu, cura teu filho doente”


          Era uma rica família protestante da Inglaterra: marido, esposa e um filhinho paralítico do lado direito. Vieram passar as férias grandes numa praia ao sul da França. Na viagem de regresso tinham de passar perto do Santuário de Lourdes.
               O pai, protestante fanático, tem uma ideia fixa: não parar, de maneira nenhuma, nessa terra. Em Tarbes ele mesmo examina o motor do seu automóvel; quer ter a certeza de fazer a viagem diretamente até Biarritz, sem qualquer paragem. Transmite à família a sua decisão:
               --Nenhuma demora em Lourdes, terra de “superstições”.
               O carro voa pelas bem cuidadas estradas francesas, até que, de repente, se ouve um ruído forte e seco: o automóvel estaca bruscamente a uns 100 metros do Santuário de Nossa Senhora!
               Acode imediatamente um mecânico experimentado, que dá a sentença: uma avaria exige dois ou três dias para reparação. A família inglesa aceita a carona do dono de um hotel de Lourdes, no qual se vai instalar.
               Tinham determinado não parar no Santuário de Maria Imaculada, e ei-los obrigados a demorarem aí três dias. Lição de Deus? Não, antes amoroso desígnio da sua Misericórdia.
               No dia seguinte, o doentinho inglês chamado John (João) está sentado no jardim do hotel, onde o colocaram, folheando a sua coleção de selos. A seu lado aparece a carita fresca de um pequeno. É o filho do cozinheiro, que tem a mesma idade, o mesmo nome João (Jean) e a mesma paixão pelos selos. Com o à vontade próprio de Crianças, diz ao seu companheiro:
               --Eu também tenho uma coleção de selos! Um missionário de Ceilão mandou-me um precioso, que te dou!
               Os pequenos tornam-se amigos e entendem-se à maravilha. Falavam em francês, pois o inglezito, muito esperto, tinha aprendido essa língua. Jean fica a saber que John consultou os mais afamados especialistas, sem conseguir a cura. Dos milagres de Lourdes, nunca tinha ouvido falar.                                                                                                                                                      ....            -- Porque não te levam à gruta? Nossa Senhora faz lá tantos milagres, que também te podia curar.                                                                                                                                      ...             O coração do menino rico, afeito à terrível doença, dilatou-se com a esperança. Nos seus olhos clareia um fiozinho de alegria. Havia remédio para a sua doença e talvez se pudesse curar. Mas... objeta, tristemente:
               -- O meu pai não me dá licença de ir à gruta.
               -- Vai ter com a tua mãe e pede-lhe com todo o empenho.
               O inglezito bem sabia que era escusado insistir com o pai. Na manhã seguinte, o menino francês pergunta ao colega:
               -- Já pediste licença à mãe? Porque te não levam à gruta?
               -- O meu pai não deixa; diz que são tudo mentiras dos católicos.
               O esperto filho do cozinheiro, descobre a solução.
               -- Não te preocupes! Acordas às cinco da madrugada; eu venho buscar-te no carrinho de mão, da cozinha. Sobes, pões as muletas em cima e eu levo-te à gruta. À hora de levantar já estamos de volta no hotel, sem que ninguém tenha dado conta. Queres?
               -- Quero sim. Que bom! - rejubila o aleijadinho.
               -- Não digas nada aos teus pais! Entendido? Olha, mas é preciso rezar! Sabes rezar?          ..             -- Não ...
               -- Pega neste terço e vai-o passando pelos dedos. Nas contas grandes dizes tu sozinho: «Mãe do Céu cura o teu filhinho doente»; nas contas pequenas, dizemos os dois: «Ave Maria...  Ave Maria». Podes rezar em inglês, porque a Senhora entende.
               Cinco da madrugada. Na frescura da manhã de Setembro, um carro de mão empurrado por um garoto vivo e esperto desliza pela rampa em direção à gruta de Lourdes. No carrinho, outro pequeno, de aspecto triste, com pijama azul. Chegam à gruta. O francês tira do carro o companheiro doente, apoiado nas muletas. O infeliz vai rezando constantemente a singela oração que lhe ensinou o filho do cozinheiro: «Mãezinha do Céu, cura o teu filhinho doente!». Sente-se comovido e quase tem vontade de chorar...
               Um sacerdote começa no altar a Santa Missa. Os dois pequenos estão de pé, contra o costume de John. À consagração, o francês diz baixinho ao colega:
               -- Agora tens que pôr-te de joelhos... Anda... Ajoelha-te.
               E sem cair na conta do que fazia, o doente ajoelha-se, coisa que nunca tinha podido fazer.                                                                                                                                                        ....           Acaba a missa. Jean, como quem tinha previsto tudo, diz com a máxima naturalidade:
               -- Anda; traz as muletas, põe-nas no carro, que eu levo-te para casa...
               John levanta-se, dá um passo, dois... três...
               -- Já posso andar, Jean!
               Este, espantado com a admiração do amigo, diz-lhe:
               -- Pois é claro; já lhe tinha dito!
               Que milagre verdadeiro tão doce e encantador! Que página cheia de graça e beleza! Os dois pequenos lançam à branca Senhora um beijo e voltam para o hotel, como tinham previsto.
               -- Não digas nada, ouviste? Vais ver que surpresa!
               Mas a surpresa foi para eles. O senhor inglês, ao encontrar a cama vazia, alarmou-se de tal forma, que todo o hotel andava em alvoroço, à busca de John...
               Naquele momento os dois “fugitivos” entram pela porta.
               O inglês ficou pasmado ao ver o filho de pijama e a andar sem muletas!
               Para isso é que Nossa Senhora fez com que o automóvel parasse em Lourdes. Amorosos desígnios de Deus e de sua Mãe!
                                                                                         Revista “Cruzada” – Portugal


                                        Os óculos de São José


               Um dia, a superiora de um convento estava cheia de dívidas. As despesas eram muitas, até porque o convento andava em obras.
               Como não tinha dinheiro para pagar as dívidas, resolveu colocar as faturas (cobranças) aos pés da imagem de São José com uma carta urgente a pedir ajuda. Inclusive, pôs uns óculos aos pés do santo, para que ele visse bem os números dos cifrões $.
               Em visita ao convento passou por ali o Bispo, que olhou para a imagem e ficou admirado com o que viu. Perguntou o que significava aquilo tudo. A superiora, solícita, explicou:
               -- Senhor bispo, é para ver se São José me ajuda a pagar as muitas dívidas do convento. Só ele me pode valer.
              O bispo achou que aquilo não passava de uma superstição e disse-lhe:
               -- Tire as faturas e esses óculos daí, Madre. Parece uma coisa de crianças! Mas se estão mesmo em grande dificuldade, passe pela casa diocesana que eu irei dar-lhe o dinheiro que precisa.
              Conta-se que a superiora olhou para a imagem de São José e sorriu de agradecimento.

Março é o mês de S. José, esposo da Virgem Maria. Este santo continua certamente a interceder por nós, sobretudo para que sejamos santos como Ele
                                          O Conto do Mês – Jornal Cavaleiro da Imaculada
                                                                                
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             O menino que brincou com Jesus


             Em Colônia, famosa cidade alemã, mostra-se ainda hoje na igreja de Santa Maria do Capitólio o local em que, segundo piedosa narrativa, o Beato Hermano Brincava com o menino Jesus.          
            Muito inocente, Hermano não gostava das más brincadeiras dos outros meninos de sua idade, e preferia passar longos períodos nessa igreja contemplando uma imagem da Virgem com seu divino Filho nos braços.
               Certa feita — oh, surpresa! — lá chegando, encontrou nada mais nada menos que o Menino Jesus brincando com São João Batista. “Como gostaria de estar com eles!”, pensou Hermano. Mas uma alta grade lhe barrava a passagem, e ele era tão pequeno... Manteve-se ali, extasiado, olhando e admirando.
               De repente, ouviu uma celestial voz, inesquecível, partindo da imagem de Maria Santíssima:
               — Hermano, meu filho, não queres vir brincar também?
               — Sim, não desejo outra coisa! Mas a grade é muito alta.
               — Pois Eu vou te ensinar a passar por cima. Vamos, põe o pé nessa pequena trave, depois apóia a mão ali...
             Assim, com as indicações de Nossa Senhora, conseguiu o pequeno juntar-se a Jesus e a João Batista que o receberam com todo carinho. E brincaram animadamente por longas horas.
               Voltando outro dia, Hermano trouxe de presente para Jesus uma linda maçã.
            Com toda confiança, estendeu-a em direção da imagem, e a fruta foi recolhida com um luminoso sorriso de agradecimento.
               Assim era o íntimo convívio do menino com Maria e Jesus.
               Num dia de rigoroso inverno, lá apareceu Hermano descalço, tiritando de frio.
               — Hermano, meu filho, por que andas descalço neste frio? — indagou-lhe Nossa Senhora.
               — Senhora, sou pobre e não tenho sapatos — respondeu ele, meio sem jeito.
               — Vai àquele altar e pega a moeda que lá encontrares, para comprar os calçados. E toda vez que lhe faltar algo, vai lá e encontrarás o de que necessitas — disse-lhe Ela maternalmente.
           Muito agradecido, o bom Hermano pegou a moeda e foi correndo comprar um robusto par de sapatos, presente da Mãe do Céu.
               Anos mais tarde, fez-se religioso no convento de Steinfeld, onde, por sua angelical pureza, ao seu
nome foi acrescido o do esposo virginal de Maria.
               E assim passou ele à História com o nome de Beato Hermano José, o menino que brincou com Jesus.

Do alcoolismo à santidade
       No ano de 1925 em Dublin um jornal publicou a seguinte notícia: "Um homem idoso perdeu os sentidos na Gramby Lane. No hospital descobriram que estava morto; não trazia consigo nenhum documento."
           Tratava-se de Matt Talbot, que de alcoólico inveterado, se tornou um verdadeiro santo.
           Era o segundo de 12 irmãos, e nasceu numa família pobre de Dublin (Irlanda) em 1856.
          Terminada a instrução primária, Matt Talbot empregou-se na casa de um negociante de vinhos, como moço de recados, aos doze anos de idade
           Aí aprendeu a beber, infelizmente. E passados dois anos, era um miserável alcoólico.
        Os pais pensavam que mudando de emprego, o rapaz deixasse a bebida, e puseram-no a trabalhar como ajudante de pedreiro.Continuou porém, preso ao álcool. No fim de cada semana gastava quase todo o ordenado nas tabernas.
           Quando não bebia, Matt era amável, serviçal, simpático e acolhedor. Mas quando ficava embriagado, fazia-se valentão e metia-se em brigas.
          Durante 14 anos, Matt não passou de um pobre bêbado e jogador viciado.O jogo hipnotizava-o e a bebida atraía-o irresistivelmente. Aos sábados, dia de pagamento, ele ia esperar diante do portão da fábrica os companheiros que deixavam o trabalho com o ordenado da semana, esperando que o convidassem para beber um copo. Quase ninguém parava para falar com ele. Não era bem visto, obviamente.
          Numa tarde caiu em terrível abatimento físico e moral, como não lhe havia acontecido até então. Sentia asco, nojo de si mesmo e do seu vício degradante. Como se sucedessem esses estados com tanta freqüência, um dia disse à mãe, para surpresa dela:
           -- Hoje fiz um voto a Deus!
           -- Que voto meu filho?
           -- O voto de não beber durante três meses!
           No dia seguinte foi trabalhar normalmente na fábrica. Passou bem a semana inteira. No sábado imediato, os companheiros convidaram-no para ir beber um copo, o que raramente acontecia.
           Por delicadeza, aceitou o convite. Mas os companheiros, arregalando os olhos e sacudindo a cabeça, ficaram admirados quando o  viram beber apenas água mineral!
           Entretanto, a luta para cumprir o voto durante aqueles três meses foram para ele um terrível tormento. E dizia à sua mãe como forma de desabafo:
           -- Já não aguento mais, minha mãe! Tenho de voltar a beber!
         Mas resistia, e as lágrimas corriam-lhe pela face. Mais tarde confessou: "Foi então que me pareceu ouvir uma voz interior que dizia: -- A sobriedade é uma tolice. Você é totalmente incapaz de viver sem bebida. Nenhum homem viciado consegue viver sem álcool!
       
Matt reconheceu então que era um aviso do Céu a explicar-lhe que por suas próprias forças seria incapaz de abandonar para sempre o vício da bebida. Era preciso pedir essa graça a Deus Nosso Senhor.
          Em seguida humilhou-se e suplicou a Deus que lhe concedesse forças para dominar e largar esse vício da embriaguez.
          A partir de então, dirigia-se toda mahã à Igreja dos Franciscanos para assistir Missa e receber humilde e devotamente a Sagrada Comunhão.
          Passados os três meses, Matt renovou o voto por um ano. Aos poucos foi-se livrando da bebida até se tornar um homem livre dessa prisão alcoólica, embora de quando em quando tivesse que lutar contra a tentação de beber. Foi ele mesmo quem o disse:
         "Quando em certa manhã ia para a Igreja dos Franciscanos, assaltou-me um terrível desejo de tomar álcool. Não sabia como havia de resistir. Durante duas horas andei sem rumo pela cidade e parei diante de uma igreja. Entrei, coloquei-me de joelhos diante do altar, e de todo o coração supliquei a Deus:
         -- Senhor, não me deixeis cair novamente no vício da embriaguez, que desejo vencer com o vosso amparo e ajuda!" Fiquei ali não sei quanto tempo.
         Ao longo dos meses e anos, pouco a pouco Matt tornou-se outro homem. Sentiu-se completamente livre da tentação da bebida.
          De vez em quando era visto entrar numa e outra taberna com um envelope na mão. Levava o dinheiro para pagar as bebidas que no passado bebeu fiado.
        Daí por diante, entregou-se a uma rotina de muita oração e impressionante penitência, durante seus últimos 40 anos de vida. Levantava-se às 5 da manhã para assistir à Missa antes do trabalho e dava à oração todos os momentos livres de que dispunha.
         Quando caiu desmaiado ao dirigir-se para a Missa, e levado para o hospital, encontraram-lhe o corpo cingido por áspero cilício de pontas de arame mordentes, sinal da intensidade da mortificação que praticava.
         Introduzindo o processo de beatificação em 1947, foi declarado Venerável em 1975. A sua conversão foi tão sincera que dificilmente se encontrará nestas terras um exemplo de tanta oração e penitência como a deste carregador das docas de Dublin.
         Matt Talbot morreu a caminho da Missa na Igreja dos Franciscanos, depois de ter completado 69 anos de idade.
                                                                   Jornal de Dublin – Irlanda     
                                                                         8 de Julho de 1975


Santa Bernadete : a santa da humildade
             
                Uma pobre mulherzinha dirigiu-se para o convento de Saint Gildard em Nevers, França, onde vivia a vidente de Lourdes. Confiava que a sua filhinha, de cinco anos de idade, aleijada, ficaria curada se Bernardete lhe tocasse. A Superiora porém, resistiu tenazmente em atendê-la.
            – Não posso dar tal licença.            – Por quê, Madre?
– Porque é preciso que a Irmã Maria Bernarda (assim lhe chamavam no convento) viva inteiramente esquecida do mundo. Temos procurado sempre afastá-la de todas as pessoas que lhe querem falar, tocar-lhe com objetos de piedade ou venerá-la como santa. Tudo isso pode fazer nascer no seu coração o maldito orgulho.
– Ó minha Madre – suplicava a pobrezinha – tenha pena de minha filha! Deixe que a Irmã Bernarda toque na menina e eu tenho certeza de que ela ficará curada.
Chorando e soluçando abraça-se aos joelhos da superiora:
– Ó minha Madre, tenha compaixão de uma pobre mãe aflita!
A Superiora, não podendo resistir a tantas insistências, diz-lhe:
– Encontrei a maneira de lhe conceder o que quer. Sente-se aí e não diga nada.
Fazendo vir a  vidente de Lourdes à sala de visitas, explicou-lhe:
– Irmã Bernarda, tenho de falar a sós com esta senhora. Como a criança nos incomoda na conversa, pegue nela ao colo e leve-a para o jardim. Entretenha-a por lá até que eu a mande chamar.
Bernardete tomou a aleijadinha nos braços e saiu.
O coração da pobre mãe batia com alvoroço. Não eram passados ainda cinco minutos, quando a menina, que nunca tinha dado um passo, corria alegremente para junto da mãe. A Irmã Bernarda, que de nada desconfiava, seguiu-a para explicar à Superiora o sucedido. Não tinha podido evitar os saltos que a pequenina lhe dava no colo, nem a corrida para junto da mãe. Não se pode calcular a alegria da boa mulher.
A Superiora proibiu inteiramente que se falasse no caso e a santa nunca lhe ligou a menor importância. Ela foi sempre a santa da humildade e dizia de si própria:
“Sou como a vassoura que quando já não serve, põe-se atrás da porta”.
No seu Testamento Espiritual escreveu:
“Pelas bofetadas recebidas, pelo escárnio, pelos ultrajes, pelos que me trataram por doida, pelos que me julgaram mentirosa, pelos que me consideraram interesseira, obrigada Mãe do Céu! Obrigada, muito obrigada, porque se tivesse havido na terra uma menina mais ignorante e mais estúpida que eu, tê-la-íeis escolhido”.
Bernardete faleceu aos 35 anos de idade no dia 16 Abril de 1879. Tinha passado 13 anos na vida religiosa. 


O seu corpo conserva-se perfeitamente incorrupto no convento de Nevers. 
Parece mesmo que está viva. 
  Revista “Cruzada”   ---   Braga -Portugal


                   O monge e o rouxinol


          Esta encantadora lenda era considerada fato verídico em vários lugares da Europa. EmPortugal, diz-se ter passado em Coimbra. Na Galicia (Espanha), assegurava-se que ocorrera no mosteiro de Armenteria. E na Holanda seria na abadia de Afflinghem. 

           Era uma vez um jovem monge de nome Urbano, piedoso e diligente, que era bibliotecário do mosteiro.  Dedicava-se a essa função com muito empenho. Zelava pela ordem e guarda dos livros, estudava muito e gostava de ler especialmente a Sagrada Escritura.
               Um dia porém, deparou-se com um versículo do Salmo 89 que muito o intrigou: "Porque mil anos diante de Vós, Senhor, são como o dia de ontem, que já passou, como uma só vigília da noite".
             "Mas isto parece-me impossível" - pensou ele. E essa dúvida fixou-se em sua mente, passando a incomodá-lo desde aquela leitura.
              Numa tarde aconteceu-lhe algo prodigioso, quando desceu da biblioteca para o luminoso claustro, após terminar o trabalho.
             Ao olhar para o jardim, viu um lindo rouxinol pousado no ramo de um arbusto, que se pôs a cantar do modo mais belo que se possa imaginar. O monge aproximou-se da ave, e quando ia pegá-la, voou para o galho de outro arbusto próximo, cantando de maneira ainda mais forte e bela.
           Em certo momento, voou sobre o muro do mosteiro, e o monge foi-lhe ao encalço saindo pelo portão. O jovem embrenhou-se no bosque ali próximo para continuar a ouvir-lhe o canto, mas após vários passos, deixou de ouvir o rouxinol e perdeu-o de vista.
             Resolveu então, voltar apressado para o mosteiro, pois não tinha pedido autorização para sair, e os sinos já tocavam o Ângelus das 18 horas.
           Surpreso, viu árvores enormes pelo caminho, das quais não se lembrava. Bem, certamente estivera tão atraído pelo canto do rouxinol que não as percebera. Contudo, ao avistar o mosteiro, ficou espantado. A muralha estava mais alta e o portão em outro lugar. Teria errado o caminho? Enfim, o momento não era de pensar nisso, mas de entrar pelo portão, e explicar ao abade o que acontecera.
          Ao bater na aldrava foi atendido por um porteiro que não conhecia, o qual não queria deixá-lo passar.  Urbano forçou a entrada e seguiu rapidamente em direção ao jardim interno que - ó surpresa! - estava completamente mudado! Correu os olhos pelo claustro e não o reconheceu: portas novas, mosaicos que nunca vira. Ao menos a igreja continuava ali ao lado, mas estava rodeada por construções que nunca haviam estado ali.
          Desconfiado de que estivesse sonhando, dirigiu-se a um monge que cuidava das plantas e perguntou: "Irmão, o que aconteceu?! Como foi que tudo aqui ficou tão diferente?" O outro olhou-o intrigado e disse: "Não está nada diferente. Estou aqui há vinte anos e nunca vi nada de diferente. Mas, caro irmão ancião, permita-me perguntar-lhe de onde o senhor vem?" Urbano retrucou: "Por que o senhor me chama de ancião? Tenho no máximo a metade da sua idade!" - respondeu Urbano.
          "O senhor, com esses cabelos tão brancos?"
          Urbano sentiu-se fraquejar, abaixou a cabeça, e só aí notou a longa barba, branca como a neve, que lhe descia até a cintura.
          Completamente desnorteado, saiu a perambular pelos corredores e estranhou que todos se afastavam dele como se estivessem a ver um fantasma. Em certo momento, viu caminhar em sua direção um  grupo de monges com o abade à frente, o qual erguendo um crucifixo, disse-lhe solenemente: "Ó alma do outro mundo, em nome de Jesus Cristo, parai e dizei o que desejais aqui na nossa abadia?"
          "Mas eu sou monge aqui!"- retrucou Urbano aflito. "Vós é que sois estranhos. Onde está o abade Félix, meu superior, e onde estão os meus irmãos de hábito?"
          A surpresa era geral. Nisto, um jovem adiantou-se e disse ao abade: "Isto lembra-me algo que li num antigo diário do mosteiro. Peço licença para ir buscá-lo". Em dois minutos regressou com o grosso volume, bastante envelhecido. Abriu-o e leu em voz alta o que havia sucedido há trezentos anos:
          "Hoje, Urbano, o jovem bibliotecário do mosteiro desapareceu sem deixar sinal. Nunca se soube se fugiu da vida do mosteiro ou se ficou louco".
          Urbano suspirou, e com os olhos marejados e voz trêmula, disse: "Ah, rouxinol, então era essa a sua mensagem? Eu o segui durante alguns minutos para ouvir o seu cantar, e três séculos se passaram!  Era a canção do Céu que eu ouvia! Como o tempo das nossas vidas é minúsculo em comparação com a eternidade! Agora compreendo aquela frase do Salmo 89 e por isso louvo a Deus.
                                                 Histórias para crianças ou adultos cheios de fé
                                    Associação dos Custódios de Maria - 1ª Edição - Abril de 2006


               Uma genuflexão bem feita


               Mons. de Segur conta-nos esta história que leu de Mons. Mermillod quando este era pároco de Nossa Senhora de Gênova.
               Costumava ele então fazer uma oração fervorosa na igreja, diante do Santíssimo Sacramento, ao anoitecer.
               Quando lhe parecia que todos os fiéis já tinham saído da igreja, ele ajoelhava-se em frente ao altar-mor, rezava e osculava o chão em sinal de adoração e respeito para com a presença real de Nosso Senhor.
               Um dia, depois de praticar esse ato de devoção, no momento em que se levantava, viu uma pessoa que saía do confessionário.
               Dirigindo-se a ela perguntou-lhe:
               -- Que faz aqui,, minha senhora? Não devia estar aqui a estas horas.
               -- Padre, perdoe a minha indiscrição. Sou protestante, mas tenho assistido às suas pregações nestes dias. E as razões de Vossa Revma. comoveram-me. Restava, porém, uma dúvida no meu espírito. Será que este homem, dizia eu para comigo, acredita no que está pregando? Para desfazer a minha dúvida, entrei e escondi-me neste confessionário para ver seu procedimento quando estivesse só. Ao ver agora o respeito que Vossa Revma. devota à Eucaristia, a minha hesitação acabou. Eu creio também!
               O Padre Mermillod agradeceu a Deus Nosso Senhor que se serviu dele para reconduzir à Igreja essa alma afastada.
                E qual a causa da conversão dela? Uma genuflexão bem feita.

                                  “O que há numa Hóstia”, por Mons. Mermillod – Ribeiro da Cunha




VINDE, Ó MENINO JESUS 

 

 
               O maravilhoso milagre que vamos narrar ocorreu por ocasião do Natal de 1956, na Hungria então subjugada pela Rússia comunista. O prodígio, inteiramente verídico e largamente conhecido, chegou ao Ocidente através do relato do Pe. Norberto que exercia o sacerdócio numa paróquia de Budapeste, antes de escapar para o Ocidente, fugindo da perseguição que os marxistas moviam aos católicos em seu país.
               Na escola dessa paróquia, ensinava a professora Gertrudes, atéia militante. Todas as suas lições giravam em torno da impiedade e da negação de Deus. Tudo lhe servia para denegrir e ridicularizar a Igreja Católica. O seu programa de ensino era simples: arrancar a Fé da alma das crianças e formar legiões de pequeninos "sem Deus".
               Suas alunas mesmo intimidadas, não se deixavam convencer com as troças da mestra. Coisa curiosa: Gertrudes parecia adivinhar quais as que comungavam e era as que mais perseguia.
               Um dia, uma menina de dez anos, chamada Ângela, procurou o Pe. Norberto e pediu-lhe licença para comungar diariamente. Muito inteligente, muito bem dotada, era a melhor aluna da classe e da escola. O sacerdote mostrou os riscos a que se expunha, mas ela insistiu: "Senhor padre, a mestra não conseguirá apanhar-me em falta, asseguro-lhe, e trabalharei melhor. Não me recuse o que lhe peço. Nos dias em que comungo sinto-me mais forte. O senhor padre disse-me que devo dar bons exemplos. Para os dar preciso sentir-me forte." O padre acedeu.
               Desde esse dia, Ângela viveu um verdadeiro inferno. Apesar de saber sempre as lições, a mestra implicava continuamente com ela. A criança resistia, mas ficava nitidamente abatida. A partir de novembro, as aulas passaram a ser autênticos duelos entre a professora e a pequena discípula.
               Aparentemente, a mestra triunfava e dizia sempre a última palavra. Todavia, a sua irritação era tão grande que até o silêncio de Ângela a punha fora de si.
               Aterradas, as outras crianças pediam socorro ao padre Norberto, que nada podia fazer. "Graças a Deus - lembrava ele - Ângela continuava firme na sua Fé e a nós restava rezar com absoluta confiança na misericórdia divina".
               Pouco antes do dia de Natal, a 17 de dezembro, a professora inventou um estratagema cruel que devia, na sua opinião, dar um golpe mortal naquilo que ela designava por "superstições ancestrais" das alunas. E preparou a cena com sádico entusiasmo. Naturalmente, a pobre Ângela foi a vítima ...
              Com voz doce, a professora fez um longo interrogatório para que ela e a classe se certificassem de que pessoas vivas atendem quando são chamadas. As mortas, ou as que só existem nas histórias, não podem obviamente aparecer.
               Mandou então Ângela sair da sala de aula e ficar do lado de fora. Ato contínuo, fez as alunas chamarem-na em coro. Ângela entrou muito intrigada, pressentindo uma cilada. "Afinal - sentenciou a mestra - estamos todos de acordo. Quando chamamos aqueles que vivem, que existem, eles vêm. Quando chamamos os que não existem, eles não podem vir ... Ângela, que está aqui, viva, em carne e osso, ouviu-nos chamando-a e veio. Suponhamos que chamássemos o Menino Jesus. Parece que há entre vós quem acredite nEle..." - acrescentou maliciosamente.
               Houve um instante de silêncio, de medo, talvez, mas as meninas, embora timidamente
responderam: "Acreditamos".
               "E tu Ângela, também crês que o Menino Jesus te ouve quando o chamas?" - perguntou-lhe a perversa Gertrudes. Apesar de ver ali a cilada que havia pressentido, a criança respondeu com ardente fervor: "Sim, creio que Ele me ouve!"
               "Muito bem", replicou a mestra. "Façamos a experiência: as meninas viram que Ângela, quando
a chamávamos, veio imediatamente. Se o Menino Jesus existe, Ele vos ouvirá chamando-O. Gritem todas ao mesmo tempo e com força: Vem Menino Jesus! Vá! Um, dois, três! Chamem!"
               Intimidadas, as crianças permaneceram caladas. Os argumentos da mestra tinham-nas impressionado. Gertrudes soltou uma gargalhada prolongada, diabólica ...
               De repente, deu-se o imprevisto. Levantando-se, no meio da classe, cheia de esperança e confiança, Ângela olhou em volta para todas as suas colegas e gritou: "Ouçam-me, vamos chamá-Lo! Gritemos todas: vem, Menino Jesus!"
               Num instante, todas se puseram de pé e fizeram ouvir suas vozes num uníssono vibrante. A professora não esperava esta súbita reação. Um impulso sobrenatural se manifestava naquela que se revelava a mais ardorosa e esperava o milagre.
               Quando o clamor das alunas estava no auge, a porta abriu-se sem ruído, entrando por ela uma claridade intensíssima, que crescia, crescia, como a chama de um enorme fogo. No meio deste clarão, um globo cheio de luz abriu-se mostrando um Menino lindíssimo e risonho, todo vestido de luz. O Menino sorria, não falava, e todas as alunas sorriam também, tranqüilas e contentes.
               Depois o globo fechou-se devagar e desapareceu suavemente. A porta fechou-se sem que ninguém a tocasse. As crianças olhavam ainda para lá quando um grito agudo se fez ouvir.
               Aterrada, olhos esgazeados, braços esticados, a professora gritava com louca: "Ele veio! Ele apareceu!" E fugiu completamente desnorteada, batendo com a porta.
               O padre Norberto disse que interrogou as crianças uma por uma. E atestou, sob juramento, que não encontrou nas suas palavras a menor contradição.
               Quanto à professora Gertrudes, teve o fim que merecia: enlouquecida, teve de ser internada numa casa de saúde. E ali, sob o impacto de tremendo abalo que sofreu, não cessava de repetir: "Ele veio!
Ele Veio!"
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                     O menino do tambor



               Há mais de dois mil anos, nos imensos e longínquos arenais da Arábia, onde as montanhas não
têm nome, pois o vento as faz e desfaz por sua força mutável e dominadora, vivia um menino muito pobre. Órfão de mãe desde muito pequeno, seu pai era o guardião de um oásis, afastado das rotas mais frequentadas, mas famoso entre os viajantes por sua água abundante e cristalina.
               Muitas vezes pensou o zeloso pai em aliviar a solidão de seu filho dando-lhe de presente algum brinquedo. Mas, nunca teve coragem de perguntar aos mercadores o preço, certamente maior do que podia pagar com as poucas moedas que possuía.
               Decidiu então confeccionar para o menino um pequeno tambor. Tomou um velho barrilzinho, retirou- lhe as tampas, envernizou-o com óleo de palma e estendeu cuidadosamente sobre seus extremos duas peles de cabra fortemente esticadas por tendões de carneiro.
               A preparação do instrumento levou-lhe semanas de trabalho. Teve de fazê-lo e refazê-lo várias vezes, até que ficou bom. Mas o esforço valeu a pena: o menino recebeu o tamborzinho com essa capacidade de alma que têm os inocentes de alegrar- se com um único presente, o que vale mais que receber outros mil! Tocava- o constantemente, acompanhando músicas que ele mesmo compunha. Ah... e o eram belas! Tão belas que em todo o deserto, do mar às montanhas, era ele conhecido sob o nome de "o menino do tambor".
               Numa fria noite de inverno, a monótona rotina daquele oásis foi quebrada por um fenômeno surpreendente: aparecera no céu, ao oriente, uma estrela que brilhava mais do que todas as outras e parecia se deslocar lentamente em direção ao ocidente. Tão luminosa era que permanecia visível dia e noite, aproximando-se deles sempre mais. Perante tão extraordinário prodígio, o pai chegou a sentir algum receio, mas seu filho logo o tranquilizara: aquele astro era belo demais para ser um mau presságio. Parecia, pelo contrário, anunciar um acontecimento grandioso e feliz.
                Dias depois, quando a estrela estava já muito próxima, o menino divisou no horizonte uma longa fila de homens e cavalgaduras. Não se tratava de uma caravana comum. O número de bestas de carga era incontável. Portavam fardos magníficos! E até o menor dos servos que ali estava, vestia e se comportava com a dignidade de um fidalgo.
               No fim do longo cortejo, sentados no alto de vigorosos dromedários, vinham três nobres senhores, vestidos com trajes coloridos e turbantes de seda. Um deles era um ancião de longa barba, outro
um homem maduro de vivos olhos e ruivos cabelos, o terceiro um vigoroso árabe de pele escura. Dir-se-ia que os três eram reis.
               O menino foi correndo pegar seu tambor, tocou-o e cantou em honra daqueles admiráveis viajantes. Quando terminou, o venerável ancião da barba longa inclinou-se em direção a ele, dizendo- lhe comprazido:
               - Meu bom menino, que bela é tua música! Não haverá abrigo em tua casa para uma caravana que
chega fatigada de uma longa jornada?
               Fazendo uma profunda reverência, respondeu-lhe:
               - Sim, senhor! Meu pai é guardião deste poço, e sempre dá pousada para homens de bem. Pai e filho aplicaram-se em receber aqueles senhores com a mais esmerada hospitalidade. Serviram-lhes suas melhores tâmaras e leite de cabra recém ordenhado. Deram de beber aos camelos, encheram os odres com água e hospedaram-nos o melhor que puderam na choupana de taipa e folhas de palmeira que haviam construído a modo de pousada.
              À noite, quando todos já se recolhiam, o menino aproximou-se curioso do ancião que tão bondosamente o tratara e perguntou-lhe singelamente:
               - Senhor, perdoe meu atrevimento, mas a que se deve a presença de tão ilustres pessoas nestas desoladas paragens?
               O bom homem sorriu e explicou-lhe que vinham de muito longe. Lá em suas distantes terras souberam, por sonhos, que uma estrela haveria de guiálos até o local onde nasceria o Messias, o enviado de Deus, anunciado pelos profetas. Ao ver aparecer aquele astro desconhecido, tomaram ouro, incenso e mirra e puseram-se a caminho. Há meses o vinham seguindo e uma especial alegria de coração dizia-lhes estarem perto de seu destino.
                O "menino do tambor" nunca ouvira falar de coisas semelhantes. Ele, que não era um sábio como
os ilustres viajantes, ficou emocionado ao ouvir falar do Messias, do "anunciado pelos profetas". Sentiu um irresistível desejo de ir conhecê-Lo.
               No dia seguinte, acordou bem cedo. Despediu-se do velho pai e juntou-se à caravana. Tinha procurado no oásis com afinco algum presente que levar para o Messias, mas nada encontrou digno dele. E pensou: "irei com meu tambor, e quando estiver frente a ele lhe direi: Senhor, sou pobre e não tenho nada para oferecer-vos. Mas dizem que a minha música é bela e traz alegria.
               Alguns dias depois, após contornar o Mar Morto e remontar as íngremes encostas que dele conduzem à Judeia, a caravana fazia sua entrada em Belém de Judá. Bem em cima de uma humilde casa, a estrela se detivera e os três nobres senhores ali entraram.
              Como se já estivesse à espera, encontrava- se um resplandecente Menino sentado majestosamente, como num trono, no colo de uma bela senhora. Logo compreenderam ser aquele o Messias anunciado pelos profetas. Prosternaram-se, adorando-O, e Lhe ofereceram os valiosos presentes que traziam: ouro, incenso e mirra.


                Mas eis que, de repente, ouve-se o rufar de um tamborzinho e uma harmoniosa voz infantil, quebrando a solenidade da cena. Era o "menino do tambor" que cantava para o Salvador a mais bela de suas melodias. Ao ouvi- lo, o rosto do Menino Jesus iluminou- se com um belo sorriso, agradado com a candura dessa alma inocente. Talvez tenha sido ele, antes mesmo de São João Batista, o primeiro amigo do Menino Jesus!
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2009, n. 96, p. 46-47)
Irmã Michelle Viccola, EP

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                 NATAL NO "FRONT" - SÃO NICOLAU



               24 de dezembro de 1914, primeiro ano da grande guerra mundial...
               No front a batalha é intensa, e entra noite a dentro, manifestando a bravura com que lutavam os
contendores nas trincheiras de ambos os lados.
               Inesperadamente, as fileiras alemãs cessam de atirar. Os contingentes franceses, surpresos, também fazem o mesmo. E o silêncio desce sobre o campo de batalha...
               De repente, os franceses vêem sair das trincheiras alemãs soldados levando tochas que brilham na noite. Eles caminham sobre a neve, em cortejo, e entoam uma conhecida canção de Natal...
               Nas fileiras francesas há um momento de expectativa. Os soldados observam os alemães que se
aproximam e ficam indecisos se devem ou não atirar. Quando se dão conta, o cortejo já está a poucos passos, e entendem tudo num relance. Saem, sem medo, de seus postos e abraçam comovidos os soldados alemães.
               Era noite de Natal...
               Reunidos debaixo de um bosque de pinheiros, aqueles homens que instantes atrás tinham dado
prova de heroísmo e virtudes militares, recordam seus antigos Natais do tempo de menino...

               Um grupo conversa sobre São Nicolau, o legendário São Nicolau, que enchia a imaginação das
crianças. Alguns soldados alemães evocam suas aldeiazinhas montanhosas coberta de neve.
               No dia 6 de dezembro as famílias reuniam-se à noite, em preparação para o Natal. Todos se juntavam em volta da mesa, cheia de bolos, doces, frutas perfumadas. O ambiente, iluminado à luz de muitas velas, era de grande recolhimento, de uma alegria discreta e séria. Ao lado do presépio, perto da lareira, brilhava uma linda árvore de Natal. Fora, a neve caia em flocos leves e lentamente... Em determinado momento, os rostos das crianças se iluminavam. Ao longe ouviam o bimbalhar de pequenos sinos e o tropel de animais em marcha. Corriam para a janela, encostavam o narizinho no vidro, e viam na curva do caminho um trenó puxado por quatro renas. Nele estava sentado, pomposamente, um Bispo de longa barba branca: era São Nicolau.
               Ele estava todo paramentado, na mão direita trazia um báculo de ouro lavrado e na esquerda um grande livro, cuja capa era de ouro, em alto relevo, cravejado de rubis e outras pedras preciosas. Seu criado conduzia o trenó. Ao lado do criado encontrava-se um saco repleto de presentes, até as bordas, e um grande bordão.
               Chegando à casa, o Bispo mandava parar o trenó. O criado tomava o saco e o bordão e batia a
porta. O dono vinha recebê-lo com alegria estampada no rosto, em atitude de grande respeito e veneração.     
               O alto prelado, sua longa barba branca, a mitra e o báculo que trazia, tudo isso lhe conferia um ar de solenidade que se entremeava com a afabilidade da fisionomia e a doçura do olhar. Ele sorria para as crianças, saudava os da casa, erguia depois a mão de modo solene e traçava um Sinal da Cruz, abençoando a todos.
               O ancião dirigia-se às crianças com ternura. A uma pedia que cantasse uma canção de Natal, a outra que recitasse uma poesia, a uma terceira que rezasse uma oração. Todas as crianças, vivendo sua fase de inocência, e abertas para o maravilhoso e o sobrenatural, estavam certas que aqueles homens que tão bem representavam São Nicolau e seu criado eram pessoas que haviam descido o Céu.
               Dando-se por satisfeito, o respeitável visitante, abria então o grande livro, o livro de ouro. Nele
havia sido registrado, durante o ano, o comportamento das crianças.
               Após consultá-lo, o Bispo chamava uma a uma. A algumas, ele dava bolo, doces, bombons e frutas como presente: haviam sido bem comportadas. A outras, porém, ele sentava no joelho e, em tom afável mas sério, repreendia o mau comportamento que tiveram, faziam-nas prometer emenda, caso contrário, no próximo ano, mandaria seu criado aplicar-lhes com o bordão uma boa sova. Às mais especialmente insubordinadas, ele ameaçava colocá-las dentro do saco e levá-las, caso não se corrigissem.
               Assim, São Nicolau ia de casa em casa, dando bons conselhos, presentes e também reprimendas.
Nas casas em que não podia passar, deixava presentes nos sapatos postos fora da janela. A ninguém o ancião esquecia.
               Depois dessas recordações os soldados alemães despediram-se dos franceses.                Comemoraram juntos o Natal. Agora deveriam voltar para suas trincheiras.
                Comovidos, os franceses viam formar-se o mesmo cortejo. Os alemães se afastam pouco a pouco, deixando na neve a marca de seus passos.
                E o som da maravilhosa canção cortou novamente o campo de batalha... Cada vez mais distante, mais distante e o silêncio acabou por se fazer no front, deixando nas almas o eco daquela canção...

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FATOS PRODIGIOSOS DO DIA DE NATAL




               São Boaventura, frade franciscano que viveu no século XIII, recebeu o título de Doutor Seráfico
devido à elevação e clareza de sua doutrina. É de sua autoria o Sermão XXI No nascimento do Senhor, pronunciado na igreja de Santa Maria de Porciúncula, o qual se baseia, segundo atesta o próprio Santo, em diversas descrições antigas.
               Apresentamos abaixo uma tradução do texto original latino:

               "São estes, segundo diversas descrições, alguns dos milagres manifestados ao povo pecador no dia da natividade de Cristo:
               Primeiro  Uma estrela brilhantíssima apareceu no céu, do lado do Oriente, e nela se via a figura de um belíssimo menino em cuja cabeça refulgia uma cruz, para manifestar que nascia Aquele que vinha iluminar o mundo com sua doutrina, sua vida e sua morte.
              Segundo   Em Roma, ao meio dia apareceu sobre o Capitólio, junto ao sol, um círculo dourado visto pelo imperador e pela Sibila tendo ao centro uma Virgem belíssima, portando um menino, a fim de manifestar que Aquele que nascia era o rei do mundo, que se dava a conhecer como o "resplendor da glória do Pai e a figura da sua própria substância" (Hebr. 1,3). Vendo este sinal, o prudente imperador ofereceu incenso ao menino, e recusou desde então ser chamado deus.
               Terceiro  Em Roma desmoronou o templo da Paz, a respeito do qual, ao ser construído, os demônios se perguntavam quanto tempo duraria; tendo lhes sido respondido: até o momento em que uma Virgem dê a luz. Este foi um sinal de que nascia Aquele que haveria de destruir os edifícios e as obras da vaidade.
               Quarto  Uma fonte de azeite de oliveira irrompeu em Roma e fluiu abundantemente, por muito tempo, até o rio Tibre, para ficar patente haver nascido a fonte da piedade e da misericórdia.
               Quinto  Na noite da Natividade, as vinhas da Engadda, que produzem bálsamo, floresceram, cobriram se de folhas e produziram licor, para significar que nascia Aquele que faria o mundo florescer, reverdecer e frutificar espiritualmente, e atrair com seus odores o mundo inteiro.
               Sexto  Todos os prostituidos, homens e mulheres, morreram por toda a terra, conforme disse São
Jerônimo, comentando o salmo "A luz nasceu para o justo", para evidenciar que Aquele que nascia vinha reformar a natureza e promover a castidade.
               Sétimo  No momento em que a Virgem deu a luz, todos os ídolos do Egito se espatifaram, segundo o sinal que Jeremias dera aos egípcios quando esteve entre eles, para que se entendesse que nascia Aquele que era verdadeiro Deus, único a ser adorado como o Pai e o Espírito Santo.
               Oitavo  Logo que o Menino nasceu e foi reclinado no presépio, um boi e um asno ajoelharam se e, como se fossem dotados de razão, O adoraram, para que se compreendesse que nascia Aquele que a seu culto chamava o povo judeu e os gentios.
               Nono  Todo o mundo gozou da paz e se colocou em ordem, para que ficasse manifesto que nascia Aquele que amaria e promoveria a paz universal e marcaria os seus eleitos para a eternidade.
               Décimo  No Oriente três sóis apareceram, e aos poucos se transformaram em um só corpo solar,
pelo que se mostrava que se aproximava do mundo o conhecimento da unidade e trindade de Deus, e também que a Divindade, a Alma e a Carne em uma só Pessoa convergiram.

               Por tudo isso, nossa alma deve bendizer a Deus e venerá lo, porque nos libertou e sua majestade,
com tão grandes milagres, se manifestou a nós, povo pecador".



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Para parar um trem


               Há santos a quem o Senhor concede um grande poder de intercessão: por exemplo, até para parar um trem. E pára se as circunstancias assim o exigem. Normalmente, se o pedido se pode obter por um meio menos espetacular, nossos santos recorrem a esse, uma vez que não lhes agrada alardear,e assim passar relativamente desapercebidos.
               O doutor D. Manuel Irurita, Bispo de Barcelona, que foi mártir da Fé durante a perseguição religiosa de 1936, era muito devoto de Santa Teresinha de Lisieux.
               D. Irurita nasceu em Navarra . Anos depois de ordenado sacerdote foi nomeado cônego da Catedral de Valencia. Desta cidade saía frequentemente para pregar novenas e sermões nas cidades e povoados da região.
               Certo dia, viajando de trem para pregar na principal festa de um povoado, perguntou ao inspetor dos vagões a que horas tinha anunciado a chegada do comboio ao povoado em questão. O inspetor respondeu que o trem em que estavam viajando não tinha parada alí e que, portanto o Bispo deveria descer na estação seguinte ao dito povoado.
               O Dr. Irurita vendo que assim chegaria bem tarde ao seu destino, se encomendou à Santa Teresinha e ficou tranquilo. Quando o trem chegou na estacão do povoado em festa, parou por um instante e o Dr. Irurita, sem sobressalto desceu do vagão.
               Ao passar perto do chefe da estação, viu que este perguntava ao maquinista por que havia parado lá, já que não estava previsto que o fizesse. O maquinista exclamou:
               -Por que parei? Você não viu essa freira que cruzava os trilhos e que por pouco eu a atropelava?
               Ninguém, nem o chefe , nem os demais viram nenhuma religiosa perto dos trilhos da estação.
               A popular santa carmelita ouviu com solicitude a humilde e confiante súplica daquele zeloso sacerdote.
                                                  Boletim do Apostolado da Oração - Barcelona - Outubro 2006


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                      Um doloroso encontro 


               Pelo ano de 1956, à porta da igreja de São Pedro na cidade de Barcelona, em Espanha, pedia esmola, todos os dias, um pobre esfarrapado e sujo. Era o velho Artur.
               De cara sombria, olhos tristes, com ninguém falava. Só estendia a mão a quem entrava e saía da igreja. Se lhe davam algumas moedas, inclinava cansadamente a cabeça para agradecê-las. A camisa rota deixava a descoberto sobre o peito escuro um crucifixo de ouro.
               Um sacerdote novo, Pe. Luís de Afuentes, costumava celebrar a Santa Missa naquela Igreja. Ao voltar para casa deixava cair nas mãos do mendigo uma esmola. Ambos se conheciam através deste rasgo de caridade cristã.
               O Pe. Luís, de família rica e nobre, tinha-se feito sacerdote, levado unicamente pelo desejo de servir a Deus e fazer bem ao próximo. A vida e tudo quanto tinha herdado dos pais destinava-o ao apostolado e ao socorro dos infelizes. O seu coração bondoso tinha-se afeiçoado ao velho mendigo, cuja vida desconhecia inteiramente. Sabia apenas que era um desgraçado que precisava de ajuda para não morrer de fome.
                Certa manhã notou que Artur não estava à porta da igreja. Temendo alguma desgraça, depois de ter obtido informações seguras, foi visitá-lo a casa.
                Num sótão fétido e escuro, encontrou-o pálido, os olhos encovados, a respiração ofegante. Muito doente, a arder em febre, sentia-se desprezado dos vizinhos, esquecido pelos parentes e abandonado por todos. A morte aproximava-se e ninguém se importava com ele. Só aquele sacerdote novo o tinha vindo visitar. Quando o viu, o velho Artur exclamou comovido:
                – Oh! Senhor Padre Luís, que bom é, para vir visitar este miserável! Eu não merecia. Sou um desgraçado!
                – Que está a dizer, Artur? Não sabe que o sacerdote é amigo dos pobres? Não sabe que a Igreja é a mãe de todos e, principalmente dos doentes, dos abandonados, dos infelizes e... dos desgraçados? Além disso, lembre-se bem – acrescenta sorrindo o Pe. Luís – nós somos velhos amigos.
                – Ah! Senhor Padre! Se soubesse... Se me conhecesse não falaria assim. Não, não. Sou mau, muito mau, um miserável, maldito de Deus. E desatou a chorar.
                – Maldito de Deus? Que diz, Artur? Neste mundo não há malditos de Deus. Nosso Senhor é bom. O Padre é um representante desse Deus infinitamente misericordioso. Se O ofendeu, arrependa-se, tenha confiança n'Ele e confesse-se, pois tudo lhe ficará perdoado. Estou aqui para o ajudar no que for preciso.
                – Arrependo-me, sim, arrependo-me – exclamou o velho sentando-se na cama e abrindo mais os olhos assustados. Há vinte anos estou arrependido. Mesmo assim, sou um desgraçado.
                O Pe. Luís com a maior bondade falou-lhe da misericórdia infinita de Deus que tudo perdoa, tudo esquece. Contou-lhe a parábola do filho pródigo e o caso de Santa Maria Madalena. Jesus é um pai que nunca rejeita o pecador arrependido. O mendigo parecia não ouvir, nem fazer grande caso de tão suaves palavras.
                Por fim, animado pela caridade do sacerdote, muito devagar e com voz sufocada, pôs-se a contar a sua triste história:
                – Eu era criado numa casa nobre e rica, quando em 1936 rebentou a guerra civil de Espanha. Os meus patrões eram muito bons e muito meus amigos. Eram o senhor e a senhora, duas meninas e três meninos, todos muito católicos, felizes e bem dados. Tudo quanto eu tinha, à sua generosidade o devia. Com a guerra, apareceram os comunistas e eu, então, atraiçoei os meus senhores, tão bons. Ai, meu Deus! Tinham-se eles escondido muito bem. Para ganhar a recompensa que os comunistas me prometeram, indiquei-lhes o lugar, só por mim conhecido. Prenderam-nos e levaram-nos quase de rastos, entre ponta-pés e pancada, para uma cadeia negra e úmida. Ali teriam morrido de miséria e de fome, se não os tivessem matado antes.
                Mas mataram-nos. Parece que estou a ver. Foi um dia escuro e triste. Aos ponta-pés e empurrões arrastaram para fora da cadeia toda a família. A pobre mãe abraçava-se aos filhos e chorava como louca. O pai abençoou-os com as lágrimas a escorrerem-lhe pelas faces. As suas últimas palavras foram estas:
                – "Coragem, mulher; ânimo, meus queridos filhos! Daqui a pouco estamos no céu. Lá, seremos para sempre felizes. Viva Cristo Rei!"
                Os soldados descarregaram as metralhadoras e tombaram todos mortos. Todos, não... Por ser muito pequeno, não mataram o menino mais novo, chamado Luís. Não sei o que será feito dele.
                Um suspiro involuntário saiu do peito do sacerdote. O suor frio escorria-lhe pela face, ficando a ponto de desmaiar.
                O pobre velho, comovido e surdo, de nada deu conta. E continuou a sua triste história:
                – Senhor Padre, tudo isto é horrível. Os malditos comunistas deitaram os corpos num barranco da serra para que os animais os devorassem. Eu sou o culpado de tudo. Sou um monstro, um desgraçado. Desde então nunca mais tive paz. Choro e rezo por eles. Vejo-os sempre diante de mim. E continuou:
                – Este crucifixo que vê aqui por cima da cama era do meu patrão... Esta cruzinha que tenho no peito, trazia-a a senhora sempre consigo e com ela foi fuzilada.
                Apontando para a parede declarou:
               – Ali estão, atrás daquele pano, os retratos de ambos.
               O sacerdote ouvia comovidíssimo e pálido como morto. Levantou-se com calma e, correndo a cortina, fixou os dois retratos.
                O velho soltou um grito ao vê-los. O Pe. Luís chorava.
                – Artur, – disse com voz trêmula – venho perdoar-lhe em nome de Deus. Vou confessá-lo.
                Sentando-se à beira do leito numa desengonçada cadeira, ouviu a confissão do velho mendigo. No fim disse-lhe:
                – Artur, Deus acaba de lhe perdoar. Eu perdoo-lhe também, pelo amor que Jesus nos tem aos dois: a si e a mim.
                Depois de uma leve pausa:
                – Artur, vou-lhe descobrir toda a verdade. Você matou o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e os meus irmãos. Eu sou aquele Luís que escapou à morte. Sou Luís de Afuentes. Não se aflija. Está tudo perdoado.
                O velho abriu os olhos. Fixou a vista triste e cansada no padre e proferiu uns sons inarticulados. Que disse? Só Deus o sabe.
                Deixou cair a cabeça sobre o travesseiro.
                O Pe. Luís aproximou-se. Viu que Artur, o assassino da sua família, tinha morrido devido talvez ao choque emotivo recebido. Partiu deste mundo, perdoado por Deus e por ele, o único sobrevivente da família.
                                                    Revista “Cruzada” – Braga- Portugal – Fevereiro de 1994 – pgs. 44 a 47.



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A reconversão de um sacerdote,  descrita por êle mesmo

               Vou tentar resumir minha vida para mostrar o que a Virgem Maria faz pelos sacerdotes ... Nasci
em Montes Claros, no dia 16 de Setembro de 1931, e comecei meus estudos em Mariana, no ano de 1945. Fui ordenado sacerdote em 27 de Abril de 1955. Nomeado logo Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora Medianeira de todas as graças, exerci este cargo até 1964. Confiando em mim, o meu Bispo Diocesano, além de me fazer cônego, nomeou-me Cura da Catedral e Vigário da paróquia Nossa Senhora Aparecida, tendo eu exercido este ministério até 1968.
               Então, infelizmente, não correspondia mais à confiança do meu Bispo e paroquianos e começava já a escandalizar o povo de Deus. Porquê? Confesso publicamente: deixe-me arrastar e vencer pelos atrativos mundanos. Solicitei meu afastamento das funções sacerdotais para não mais causar escândalo.
              Vejo-me na segunda fase: um ex-padre. Não compreendia a tragédia desta situação. Queria sentir e viver as maravilhas do mundo, descontar o que julgava "tempo perdido".
              Desde 1956 lecionava no Colégio Estadual e outros estabelecimentos de ensino da cidade. Ambicionava mais. Matriculei-me na Escola de Direito e formei-me em 1972. Queria conhecer todos os ambientes, pois era "livre".
              E mais títulos chegavam. Em 1973, comecei a lecionar na Faculdade de Direito, tornei-me funcionário municipal, trabalhando no gabinete do Prefeito, na qualidade de assessor técnico de pesquisas e redator oficial. Cargos importantes e sobretudo rendosos não me faltavam. Sentia-me, portanto, humanamente realizado, como é costume dizer-se. Membro de Academias Municipais de Letras, honrarias, dinheiro, posição social e novos convites sempre a chegar, a aguçar-me o desejo de subir cada vez mais.
              Foi quando chegou o mês de Maio de 1973, o querido mês de Nossa Senhora. Não sei como, mas parei para refletir um pouco. Lembrei-me de que a Virgem Maria, Virgem Fiel, era minha Mãe. Senti que, como sempre, Ela amava-me. Eu continuava ligado a Ela pelo Terço que trazia sempre ao pescoço e que jamais deixara de rezar. Não obstante as glórias humanas, eu sentia-me vazio e triste.
              Chegou o dia 28 de Maio de 1973. Meus alunos da Faculdade de Direito organizaram uma festa de confraternização, à noite. Eu pensava confusamente em voltar à minha vida de padre. Queria e não queria. A vontade e a indecisão tumultuavam na minha mente e no meu coração ... Que iriam pensar de mim? Mas sabia que muitos rezavam pelo meu retorno. Neste estado de espírito, compareci à festa.
               Por volta da meia-noite, talvez por ter bebido excessivamente, senti-me mal e resolvi ir embora. Ofereceram-se para levar-me a casa, mas recusei porque residia perto. Cansado e apressado, resolvi contornar o corrimão do viaduto. Não me lembro de mais nada, além disto.
               Meses depois, do recuperar da consciência, fiquei a saber que caíra, vitimado por um derrame cerebral. Contaram-me que ficara paralítico do lado esquerdo e impossibilitado de falar. Fui ungido e a minha morte era aguardada como inevitável.
               Depois de muito tempo, minha memória foi voltando e comecei a lembrar o passado. Um pensamento muito forte convenceu-me da realidade: Deus havia-me derrubado no viaduto e Nossa Senhora levantou-me. Eu trazia o terço em volta do pescoço, como sempre. Como jamais deixei de trazê-lo. Sinto, com toda a evidência e arrependimento, como tinham sido vãos os meus presunçosos caminhos.
               "Vaidade das vaidades", anuncia o livro bíblico do Eclesiastes! E como eu senti isto, como senti! Não fora fiel à graça do Senhor, mas desejava ardente mente reencontrar-me com Ele! A angústia e a falta de paz atormentavam-me infinitamente mais do que a doença corporal. Eu carregava a cruz da enfermidade lutando também para recuperar também a saúde, viajava de minha cidade para Belo Horizonte, daí para o Rio de Janeiro. Era um pobre ambulante à procura mais de saúde da alma do que da recuperação física!
               E agora a terceira fase da minha história de trevas e de luz, de pecado e de perdão.
              Ao emergir da inconsciência a que a enfermidade me fizera descer, os meus olhos abriram se também para reconhecer a minha desoladora situação espiritual. Lembrei-me do filho pródigo e pensei em minha Mãe celestial.
               Confiante, procurei o Sacramento da Penitência. Contrito, fiz uma confissão geral, recapitulando todas as minhas fraquezas e pecados. Numa aparente contradição, o confessor deu-me a mais simples forma de penitência: "Reze uma Salve Rainha"! Sim, um hino de louvor à Virgem Maria, que me arrebatara da beira do abismo.
               Arrependido e perdoado, estava de novo na graça de Deus. Não hesito em proclamar que a graça de retomar à graça foi-me concedida por mediação daquela que é a "Mãe da divina graça"!
               Ajoelhado aos pés do sacerdote, legítimo representante de Nosso Senhor Jesus Cristo, recebi a luz de que carecia, a consolação que me faltava, a coragem que não tinha, a alegria que havia desaparecido.  
               E pensar que hoje a astúcia do demônio pretende acabar com este precioso Sacramento, que perdoa, que tranqüiliza, que reergue as almas e que as lança no Coração misericordioso de Nosso Senhor!
               Voltei, assim, aos sacramentos e passei a comungar diariamente, sem nunca deixar minhas devoções particulares. Continuava, agora, com mais fervor, a rezar diariamente o Terço de Nossa Senhora.
                As cartas dos amigos continuavam a chegar com sobrescritos pomposos: professor, doutor. .. Porquê? Porquê doutor? Porquê professor Joaquim Cesário? Ser Padre não é tudo? Ser Padre não é a glória maior do homem? As portas de entrada para as vaidades do mundo abriram-se facilmente. Agora, como e onde encontrar a sagrada chave da porta que eu mesmo fechara no dia em que decidi abandonar o ministério sacerdotal? Sabia-me um homem em magníficas condições sociais: dono de imóveis altamente valorizados, renda mensal privilegiada. Mas, como sempre, sentia-me vazio e triste. Experimentava a inquietação revelada por Santo Agostinho: "O nosso coração, Senhor, está inquieto até que em Ti repouse".
               A Virgem, minha Mãe, encoraja-me. Os fiéis estavam a rezar por mim. Decidi procurar o meu Bispo diocesano e lhe manifestei o desejo de reassumir o meu sacerdócio. Ele acolheu-me como Bom Pastor, abrindo coração e braços para a sua ovelha tresmalhada ... Meu caridoso Bispo aceitou-me novamente e marcou o dia 27 de Abril de 1976, aniversário da minha ordenação sacerdotal, para que eu outra vez celebrasse a Santa Missa. Deus fez-me inesperadas maravilhas! Bem posso dizer que esta foi, realmente, a minha "grande Missa", a "Missa Nova" como a chamam os neo-sacerdotes.
               Hoje trabalho entre os pobres do Asilo S Vicente, celebrando todos os dias a Santa Missa, ouvindo confissões, ajudando a meus irmãos. Uso batina. Com ela, sinto-me feliz e mais intensa e profundamente PADRE. Ela lembra-me sem cessar minha consagração a Deus e defende-me contra as ciladas do mal. Continuo com o Terço em torno do meu pescoço. Quero morrer envolto neste glorioso manto de predileção da minha boa Mãe do Céu, a Rainha e a protetora dos sacerdotes de seu Divino Filho Jesus. ( ... )
               Padre, ex-padre, de novo Padre. Lanço-me comovidamente nos braços de Nossa Senhora e aí espero continuar até meu último dia, para depois agradecer-Lhe, face a face, a misericórdia que exerceu para com este pobre filho, embora indigno, mas sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo.
               É a mesma graça que desejo aos meus irmãos padres que talvez estejam na mesma situação.
               Que a Virgem Maria os inspire, proteja e acolha da mesma forma que fez comigo.
               Assim seja.

P. Joaquim Cesário V Alberton, S.J.,
Eficácia do Rosário em nosso século
São Paulo, 1982, pág. 47-50).

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Raptado pelos ciganos



               Uma piedosa mãe rezava todas as manhãs com o seu filhinho uma linda oração ao Anjo da Guarda. À força de tanto a repetir, com as mãozinhas entre as mãos da mãe, apesar de contar só três anos e meio de idade, ele aprendeu-a de cor:
               “Querido Anjo, Anjo santo, tu és o meu guarda e estás sempre a meu lado. Diz ao Senhor que quero ser bom e que do seu alto trono me proteja. Guia-me sempre pelo bom caminho, com todos os meus queridos. Assim seja”.


               Numa manhã de Abril de 1894, meia hora depois de ter tomado o café da manhã, o rapazinho saiu para o campo, para brincar. Fazia cabriolas com o cachorrinho, quando por ali passou uma caravana de ciganos.
               O habitual espetáculo : uma carroça desconjuntada, puxada por dois jumentos, um bando de mulheres despenteadas e com vestidos até aos pés, crianças, dois homens, um a guiar a carroça, outro atrás, na porta, tudo num ambiente de miséria.

 

               Uma cigana, ao ver aquela flor de criança no prado, começou a chamá-la, mansamente, mostrando uns doces e balas. O menino aproximou-se e a cigana desceu do carro, continuou a distribuir doces. Quando já tinham deixado longe a povoação, agarrou-o e meteu-o dentro da carroça, e vá a correr pela estrada afora.
               Ao ver-se no meio daquela gente desconhecida, o pequenito começou a berrar desesperadamente, mas era tarde demais. O homem, que ia à porta, tapou-lhe a boca com a mão e impôs-lhe silêncio, com a ameaça de lhe bater se não se calasse. A caravana andou de terra em terra, atravessando campos e povoações.
               Depois dos primeiros dias de agonia, o pobre menino foi-se resignando com a sua triste sorte. Parecia já um autêntico ciganinho. A cara suja, os cabelos desgrenhados, a roupa esfarrapada e nos olhos uma saudosa tristeza. Os patrões ensinaram-lhe alguns exercícios e habilidades, e empregaram-no a pedir esmola, provocando com o seu encanto a compaixão do povo. Assim se passaram quatro longos anos.
               O jovenzinho, agora um com 7 anos, sentia que aquela não era a sua família. Lembrava-se da sua casa, do jardim, do cachorrinho com que brincava; sobretudo, não podia esquecer a sua querida mãe, que o apertava ao colo, lhe dava mil beijos, chamando-lhe “meu amorzinho”.


               Certo dia fugiu da caravana, correu, correu muito, pelos caminhos fora, até cair cansado na valeta da estrada. Passando por ali umas bondosas pessoas, recolheram-no e levaram-no para a cidade mais próxima, entregando-o no Posto Policial, onde lhe deram de comer e o deitaram para descansar e dormir.
               No dia seguinte, o chefe da Polícia conversou amigavelmente com ele, para conhecer bem a sua situação.
               Começou por suspeitar que uns pais sem coração o tivessem abandonado. Perante as respostas do pequeno descartou esta hipótese.
               – Como te chamas? – Franz.
Aquele não podia ser um autêntico nome francês. Por isso o comandante insistiu:
               – Franz e que mais? – Só sei assim.
               – E a tua mãe como te chamava? – Meu filhinho, meu amorzinho!
               – Donde és? – Não sei.
Saído de casa aos três anos, não era de admirar que não se lembrasse de mais pormenores. Além disso, a sua vida de cigano tinha-o amedrontado e destroçado. A sua linguagem era vacilante, e o modo de se exprimir, lento e difícil.
               – És capaz de dizer alguma coisa da tua mãe, antes de eles te terem apanhado?
               – Só me lembro da minha mãe, do jardim e do cachorro.
               – E como era a tua mãe? – Muito linda! Era a minha mamã.
               – Como se chamava? – Assim: mamã.
               – E o teu pai, quem é? Como se chamava? – Não sei.
              Uma vez que todas as outras tentativas se tinham manifestado vãs, o comandante começou a brincar com o jovenzinho, para ver se conseguia mais algum dado que o fizesse sair daquele círculo fechado: um jardim, um cachorro e as saudades da sua querida mãe.
               Finalmente a uma pergunta do comandante, o jovenzinho respondeu que se lembrava duma oração ao Anjo da Guarda, que a mãe lhe tinha ensinado e que ele próprio rezava muitas vezes, até na carroça dos ciganos.
               – És capaz de a dizer agora? – Sim.
               – Gostaria de a ouvir. Vá, diz a oração!
               O pequeno levantou-se, ergueu as mãos, olhou para o ar e começou:
               – “Querido Anjo, Anjo santo tu és o meu guarda que sempre a meu lado...”
               O comandante e os outros polícias aproximaram-se, enquanto o pequeno continuava firmemente a oração até ao fim: “...com todos os meus queridos. Assim seja”.
               – Isto – declarou o comandante para os colegas – pode ser pista que nos leve ao fim desejado.         
               Voltando-se para o pequeno, disse-lhe:
               – Bravo, meu rapaz! A tua oração é muito bonita. És capaz de repetir?
               – Sim, eu sou.
               E o comandante deu esta ordem ao secretário:
               – Escreva tudo. Com a ajuda de Deus espero bom resultado.
               A oração ficou escrita tal como a tinha ouvido. Entretanto, o pequeno foi entregue a gente de confiança para que o vestisse, alimentasse e procurasse colher mais algumas informações. Se, por ventura, as obtivessem, deveriam comunicá-las à Polícia.
               Não havendo naquele tempo rádio, televisão ou telefone, o chefe da Polícia valeu-se do único meio ao seu dispor: o telégrafo. E mandou telegramas para os principais jornais da França.
               A notícia apareceu com os poucos dados até então conseguidos e a transcrição de apenas metade da oração ao Anjo da Guarda. A segunda parte ficaria como prova para se conseguir saber quem eram na verdade os pais.
               Numa povoação da região do Mosa, talvez avisada por outras pessoas ou, por graça de Deus, uma boa mulher veio a saber que nos jornais tinha aparecido a notícia do aparecimento dum rapazinho de sete anos, que sabia rezar uma desconhecida oração ao Anjo da Guarda, da qual se transcrevia uma parte.          
                A boa senhora exultou de alegria: aquela era a oração que ela tinha ensinado tantas vezes ao seu filhinho desaparecido misteriosamente há quatro anos. Nossa Senhora tinha escutado as suas orações.
                Apresentou-se no Posto Policial da sua cidade e afirmou:
                – O rapazinho encontrado é certamente o meu filho Eugênio.
               – Vamos ver se é verdade – responderam os frios homens da lei, enquanto lhe pediram que dissesse a oração até ao fim.
               Confrontando as palavras da mulher com a cópia inteira que todas os postos policiais tinham recebido, reconheceram que havia inteira coincidência, mesmo até às palavras finais, não publicadas nos jornais, mas recebidas pelos postos da polícia.


               A prova era indubitável! A feliz mãe parte para a terra onde se encontrava redivivo o filho de tantas orações.
               A mãe e o pequenino abraçaram-se alegremente. Rezaram mais uma vez a oração ao Anjo da Guarda, que tinha servido de pista para se encontrarem.
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               Ainda que pareça um romance, este caso aconteceu realmente. O rapto do menino verificou-se em Abril de 1894 e o seu encontro, quatro anos mais tarde, em 1898. O pequeno chamava-se Eugène Loup (Eugénio Lobo), tendo sido apanhado pelos ciganos em Fains, povoação entre Reims e Nancy. O encontro com a mãe verificou-se na cidade Amiens, na França..

Revista “Cruzada” – Braga, Portugal – Outubro – 2002 – pgs. 273-276.


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   Sacerdote ortodoxo romeno e sua paróquia se tornam católicos romanos
               Após cura de sua mãe de um tumor inoperável, por intercessão de São Pio de Pietrelcina

São Pio de Pietrelcina

               Enquanto na Itália se intensificava o debate sobre os estigmas do Padre Pio, em um povoado da Romênia se punha a pedra fundamental da primeira igreja dedicada ao santo de Pietrelcina, em um dos países que até pouco tempo girava em torno da União Soviética.
               O evento aconteceu no povoado de Pesceana, comarca de Valcea, na Romênia, graças ao Pe. Victor Tudor. Até alguns anos atrás era sacerdote ortodoxo, mas que após tomar conhecimento da santidade do Padre Pio e ser testemunha de um grande milagre realizado por intercessão desse santo capuchinho, quis converter-se à Igreja Católica e com ele todos os seus paroquianos.
               Tudo começou em 2002. Lucrecia Tudor, de 71 anos, mãe do Pe. Victor, tinha um tumor no pulmão esquerdo. Os médicos romenos, após submetê-la a exames clínicos, disseram que lhe restavam poucos meses de vida.
               Não se podia nem sequer tentar uma intervenção cirúrgica porque o tumor produziu metástase. Ainda com a esperança de curá-la, o Pe. Victor pediu ajuda a seu irmão, Mariano Tudor, um jovem e talentoso pintor romeno especialista em iconografia, que trabalha em Roma, esperando que este conhecesse algum importante médico italiano, capaz de realizar o impossível.
               Mariano contactou com um dos cirurgiões mais célebres do mundo, que havia operado o milionário Bill Gates. “Faça a sua mãe chegar a Roma e tentarei salvá-la”, disse o professor. O pintor Mariano levou sua mãe a Roma e o professor examinou o expediente clínico dos colegas romenos e ainda realizou exames mais detalhados na paciente.
               Mas também ele, diante do quadro clínico, disse que uma operação era já inútil. Podia-se intervir só com fármacos para sedar as dores que seriam fortes, sobretudo na fase terminal.
               Mariano ficou com sua mãe em Roma e a levava ao hospital para realizar os controles. Estava ele trabalhando no mosaico de uma igreja e levava-a consigo para distraí-la. Enquanto o filho trabalhava, a enferma senhora percorria a igreja contemplando os quadros, as imagens, os altares e os vitrais.
               Em um altar havia uma grande estátua de São Pio de Pietrelcina. A senhora Lucrecia ficou impressionada com a figura desse santo e perguntou ao filho quem era. Mariano lhe relatou brevemente a história dele. Nos dias seguintes o pintor notava que sua mãe passava o tempo todo sentada num banco diante da imagem, com a qual conversava como se fosse uma pessoa viva.
               Passados cerca de quinze dias, Mariano levou sua mãe ao hospital para o terminal controle de rotina e os médicos constataram com surprêsa que o tumor havia desaparecido. Da. Lucrecia Tudor pediu ajuda ao Padre Pio e este a havia atendido.
               “A cura prodigiosa de minha mãe obtida pelo Padre Pio, e mais ainda, a favor de uma mulher de religião ortodoxa, me impressionou muito” , relata o Pe. Victor quando soube do milagre. “Contei a meus paroquianos o que tinha acontecido . Todos da paróquia conheciam a minha mãe e sabiam que ela havia ido à Itália para tentar uma intervenção cirúrgica. E que depois havia voltado para casa totalmente curada sem que nenhum médico a tivesse operado”.
               “Comecei então a estudar a vida do santo italiano. Em minha paróquia todos começaram a amar e a conhecer melhor o Padre Pio. Líamos tudo o que falava sobre ele: jornais, revistas, folhetos, livros e vídeos. Sua santidade nos conquistava a todos. E nesse período também outros enfermos de minha paróquia receberam graças extraordinárias do Padre Pio. Entre meus paroquianos se espalhou um grande entusiasmo por ele, e pouco a pouco decidimos tornarmo-nos católicos romanos, para assim estar mais próximos dele”.
               A passagem da Igreja Ortodoxa para a Igreja Católica requereu um longo procedimento jurídico e dificuldades de toda ordem. Mas o Pe. Victor Tudor e seus paroquianos não se detiveram diante as dificuldades.
               Com a ajuda do Padre Pio, seus projetos se tornaram realidade. Tornaram-se católicos romanos e imediatamente começaram a recolher os fundos necessários para a construção de uma igreja em louvor ao santo capuchinho.
               “Os fundos financeiros são o resultado das economias desta pobre gente, e da ajuda de alguns católicos alemães que souberam de nossa história», diz o Pe. Victor.
               «E são meus paroquianos que estão levando adiante as obras, trabalhando gratuitamente. Em maio iniciamos as obras de fundação. Há alguns dias celebramos solenemente a colocação da primeira pedra. E foi uma grande festa, porque quem veio para celebrar a cerimônia foi sua beatitude Lucian Muresan, arcebispo metropolitano de Fagaras Alba Julia, ou seja, a máxima autoridade da Igreja Greco-Católica na Romênia.
               Ao fim da cerimônia, o metropolita quis cumprimentar minha mãe,a miraculada por intercessão do Padre São Pio de Pietralcina. E tirou uma fotografia com ela”.
                                                   Renzo Allegri para ZENIT

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                               O preço da Salvação


               Um pároco, muito estimado pelos seus fiéis, apresentou à sua paróquia um senhor de idade, explicando-lhes que se tratava do amigo mais querido desde sua já remota infância. E que desejava conceder-lhe alguns minutos após a Missa dominical para que ele saudasse a todos e dissesse algumas palavras que julgasse mais apropriadas ao momento. 
               O pensativo homem, na sua simplicidade, trocou olhares com a curiosa assistência, com visível despretensão, e depois dos cumprimentos iniciais assim se expressou: Eu queria contar-lhes um fato ocorrido há vários anos, para dele tirarmos uma lição espiritual. Tenho certeza de que os senhores gostarão de ouvir esta narração.
               Um pai de família, seu filho adolescente e um amigo do filho navegavam com um veleiro pelo Oceano Pacífico quando uma furiosa tempestade os surpreendeu, tornando impossíveis todos os esforços para regressar à costa. As ondas provocadas pela tormenta eram tão altas que, mesmo sendo experimentado navegante, esse homem não conseguia dominar o veleiro. E assim sacudidos, os três foram arrastados mar adentro.
               Em meio à inocente narração, o amigo do pároco sente-se atentamente observado por dois jovens cujos olhares luziam, interessados que estavam em sua história.
               E continuou: Depois de quatro horas de intensa luta para se manter à tona, uma gigantesca onda finalmente derrubou o veleiro com uma força brutal e os dois jovens fora lançados ao mar! Já era noite, e noite escura.
               Desesperado, o pai agarrou a única bóia de resgate do veleiro e aí teve que tomar a decisão mais difícil de sua vida: a qual dos dois jovens deveria ele atirar a bóia? Tinha não mais que alguns segundos para decidir. Ele sabia que seu filho era católico praticante, cumpridor dos Mandamentos; mas que seu amigo infelizmente não era.
              A agonia de sua decisão era maior que o ímpeto das ondas que tentavam engolir os dois adolescentes, separados um do outro por alguns metros. Então, o pai gritou para seu filho: Meu filho, ouça-me, eu te amo! Ponha-se nas mãos de Deus e de Nossa Senhora! Atirou a bóia de resgate para o outro e assim o salvou. E quando se voltou para o filho, este havia desaparecido sob as enormes ondas no escuro da noite sem luar. Por mais que o procurasse, não apareceu à tona. Nunca mais se encontrou seu corpo.
              Enquanto todo o povo sentado silenciosamente esperava com ansiedade o desfecho da comovente história, o homem pronunciou estas convictas palavras: O pai sabia que seu filho iria para eterna bem-aventurança com Jesus Cristo, mas temia pelo destino do outro jovem que trilhava caminho oposto. É por causa disso que decidiu deixar seu filho ao sabor das ondas para poder salvar a vida do jovem amigo.
              Quão grande é o amor de Deus que fez o mesmo por nós! Nosso Pai Celestial sacrificou seu Filho único para nossa salvação. Eu lhes suplico que façam sempre esta reflexão, sobre a oferta do resgate que Ele está oferecendo a todos os homens com a Santa Missa. Agarrem essa divina bóia de resgate.
               E sem mais palavras, encerrou a saudação.
              Os paroquianos ficaram em profundo silêncio e foram se retirando aos poucos. À saída, os dois jovens se aproximaram do velho homem e um deles lhe dirigiu a palavra.
              Foi uma bonita história que a senhor nos contou e que nos ajudou a entender melhor o amor de Deus aos homens, ao entregar seu Filho por cada um de nós. Mas eu não creio que esse pai tenha chegado tão próximo da realidade, ao entregar a vida do seu filho com a esperança de que o outro se convertesse.
              O homem replicou com doçura: Compreendo o que você diz, meu caro jovem. Pode ser que ele não tenha sido tão realista assim.
               Enquanto seu rosto refletia dor e alegria ao mesmo tempo, esclareceu a interrogativa situação: É bem possível que esse pai, nessa hora decisiva, possa não ter visto o drama com tanta clareza, com tanta realidade; mas eu tenho algo mais a dizer-lhe. É que eu sou esse pai, e o amigo de meu filho é o nosso pároco.
                           Fonte: De autor desconhecido, adaptado pelo Padre Jordi Rivero. Obra das Servas dos Corações Transpassados de Jesus e Maria.


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SANTO ANTONIO E O MILAGRE EUCARÍSTICO



               Na praça lotada de espectadores, o animal faminto despreza seu alimento preferido e vai prostrar-se diante de Jesus Sacramentado...
               Em todos os lugares por onde passava, Santo Antônio de Pádua era o flagelo dos hereges, em virtude do maravilhoso dom que possuía de refutar suas objeções e desmascarar suas calúnias contra a Fé Católica.
               Encontrando-se ele certo dia em Toulouse (França) para combater os erros dos inimigos da Santa Igreja, viu-se em luta contra um dos mais tenazes albigenses. A longa discussão acabou recaindo sobre o tema do augusto Sacramento da Eucaristia. Após grandes dificuldades, o defensor do erro ficou reduzido ao silêncio. Por fim, derrotado, mas não convertido, ele recorreu a um argumento extremo, desafiando o Santo:
               - Deixemos de palavras e vamos aos fatos. Se, por algum milagre, podeis provar diante de todo o povo que o corpo de Cristo está de fato presente na Hóstia consagrada, eu abjuro a heresia e me submeto ao jugo da Fé.
               - Aceito o desafio - replicou logo Santo Antonio, cheio de confiança na onipotência e na misericórdia do Divino Mestre.
                - Eis, pois, o que proponho: tenho em minha casa uma mula; depois de deixá-la fechada durante três dias sem qualquer alimento, eu a trarei para esta praça. Então, em presença de todos, oferecerei a ela uma abundante quantidade de aveia para comer. E vós lhe apresentareis isso que dizeis ser o corpo de Jesus Cristo. Se o animal faminto abandonar a comida a fim de correr para esse Deus que, segundo vossa doutrina, deve ser adorado por todas as criaturas, eu crerei de todo coração no ensinamento da Igreja Católica.
                                                                          * * *

                No dia marcado, acorreu gente de todas as partes, enchendo a praça onde se realizaria a grande prova. Católicos e hereges, todos estavam numa expectativa fácil de imaginar. Perto dali, numa capela, Frei Antônio celebrava a Santa Missa com um fervor angelical.
                Chega então o albigense, puxando sua mula, enquanto um comparsa traz o alimento preferido do animal. Uma multidão de hereges o escolta, pressagiando sua vitória.
                Nesse momento, sai da capela Santo Antônio, tendo nas mãos o cibório com o Santíssimo Sacramento. Faz-se um profundo silêncio. Dirigindo-se à mula, ele brada com forte voz:
                - Em nome e pelo poder de teu Criador, o qual, apesar de minha indignidade, aqui seguro realmente presente em minhas mãos, eu te ordeno, pobre animal: vem sem demora inclinar- te com humildade diante d'Ele. Devem os hereges reconhecer que toda criatura presta submissão a Jesus Cristo, Deus Criador, que o padre católico tem a honra de fazer descer sobre o altar!
                Ao mesmo tempo, o albigense põe o monte de aveia debaixo da boca da mula esfomeada, incitando-a a comer.
                Oh, prodígio! Sem prestar qualquer atenção no alimento que lhe é oferecido, não escutando senão a voz de Frei Antônio, o animal se inclina ao ouvir o nome de Jesus Cristo e depois se prostra de joelhos diante do Sacramento de Vida, como para adorá-lo.
                À vista disto, os católicos explodem em manifestações de entusiasmo, enquanto os albigenses ficam esmagados de estupor e confusão.
                O dono da mula, porém, mantendo a palavra de honra dada a Santo Antônio, abjura a heresia e torna-se um fiel filho da Igreja. ?

(P. Eugéne Couet, Miracles Historiques du Saint Sacrément, 3ª ed., pp. 170-172)
Albigenses, o que eram?
               A seita maniquéia dos cátaros (puros) deitou fortes raízes no Languedoc, sudoeste da França, em torno da cidade de Albi, de onde lhes veio o nome de albigenses.
               Em sua História Universal da Igreja Católica, o conceituado historiador Rohrbacher demonstra que não se tratava simplesmente de uma heresia a mais, como tantas outras: "Eles não negavam apenas uma determinada verdade, mas toda verdade, toda religião, toda moral, toda justiça, toda sociedade".
               Segundo eles, "o mal, o pecado, o crime não decorrem do livre arbítrio do homem, mas sim da criatura, senão da própria substância do ‘Deus Mau', que fez o universo visível. (...) Daí concluíam os maniqueus: sendo o mal obra do ‘Deus Mau', é uma injustiça castigar por ele o homem; a justiça humana, que pune os malfeitores, é uma atroz injustiça que precisa ser abolida a ferro e fogo. (...) Uma vez que as coisas visíveis, materiais, físicas, são obra de Satanás, o casamento, a procriação de filhos, é, pois, uma obra maldita, a qual é preciso execrar e impedir por todos os meios".
               Negavam os albigenses a Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo e, em conseqüência, todas as outras verdades da Fé, com especial ênfase na Sagrada Eucaristia.
              Para sustar a expansão dessa doutrina deletéria esforçaram-se os monges cistercienses e, sobretudo, o grande São Domingos de Gusmão.

Fonte: Rohrbacher, História Universal da Igreja Católica, 9ª edição, 1903, tomo IX, pp. 135-136.


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                 É impossível! A minha hora de morrer ainda não chegou.

               Um bispo escocês percorria sòzinho e a pé, as montanhas de sua diocese.Quando se encontrava entre as árvores frondosas da floresta, a noite o surpreendeu, e ele se perdeu.
               Após voltas e voltas, numa longa procura, encontrou finalmente, uma choupana onde residia uma pobre família. Seus moradores o receberam sem saber de quem se tratava, pois o estranho trajava roupa civil, sob longa capa de frio.
               O bispo por sua vez, ignorava quem eram seus anfitriões. Seriam católicos? Seriam protestantes? Não havia nenhum indício que pudesse esclarecer tal dúvida.
               Entretanto, após alguns momentos de mútua reserva e discrição, o bispo notou que grande tristeza oprimia aquelas pobres pessoas.
               Tomando coragem, disse-lhes: "--Vocês foram muito acolhedores para comigo, mas vejo que estão muito tristes".
               --Infelizmente, o senhor tem razão - respondeu a mãe, que parecia estar aguardando esta pergunta para desabafar em seguida. Naquele quarto ao lado, o nosso velho pai está para morrer. E o que mais nos aflige, é que ele pretende viver ainda, e se recusa obstinadamente, a se preparar para a morte
               -- Posso vê-lo? – perguntou o bispo, entre emocionado e surpreso.
               -- Naturalmente, respondeu a mulher, com aquela confiança própria das pessoas aflitas.
               Em seguida, fez entrar seu hóspede no quartinho onde se encontrava o enfermo.
               O bispo deparou-se com um velho, reduzido às portas da morte. Parecia que a morte só precisava de mais um passo para atingi-lo.
               A primeira alusão feita pelo bispo, a respeito daqueles últimos momentos de vida do enfermo, este respondeu-lhe com firmeza, retomando todo o seu vigor: "Não, a minha hora ainda não chegou".
               E esta continuava sendo a sua resposta a todas as reflexões que o bispo lhe apresentava, na intenção de persuadi-lo a se preparar para o momento final.
               --Mas enfim, disse-lhe o bispo, diga-me por que o senhor acha que será curado.
               O moribundo respondeu-lhe com uma pergunta:
               -- O senhor é católico?
               -- Sim, eu sou católico - respondeu o prelado.
               -- Neste caso - disse o enfermo - eu lhe direi por que ainda não chegou a minha hora de morrer. Eu também sou católico, senhor. Desde a minha primeira comunhão até hoje, nunca deixei de pedir à Virgem Santa, a graça de não me deixar morrer sem ter um padre em meu leito de morte. E o senhor acha que minha Mãe do Céu deixaria de me atender? É impossível! A minha hora de morrer ainda não chegou.
               -- Meu filho - exclamou o bispo, profundamente tocado em seu coração - você foi atendido. Este que está falando com você, é mais que um padre. Ele é o seu bispo. Foi a Virgem Santíssima quem me enviou aqui, fazendo com que eu me perdesse pela floresta, e isto para abençoar e colher o seu último suspiro.
               Assim, abrindo a capa, fez brilhar aos olhos do enfermo a sua cruz peitoral. O doente extasiado de alegria, exclamou:
               -- Ó Maria, ó minha boa Mãe! Eu vos agradeço. Em seguida, voltando-se para o bispo, pediu-lhe:
               -- Dai-me a confissão agora, pois eu sei que vou morrer.
               -- Pouco depois, purificado pela última vez, faleceu cheio de alegria e confiança.
               A esta Mãe amorosa, que é rica em bondade e misericórdia rendemos a nossa pequena homenagem.

Texto: La Viergo Maria (A Virgem Maria, pequena súmula Mariana)
Lyon. 1942. p. 66 Música: Prêsence Imagens: Internet Formatação: Altair Castro


    A fidelidade do inocente alcança o perdão ao culpado



               Século XIX. Na Guiana Francesa, a ilha de São Luís, ilha-prisão. Entre os condenados está
o Padre Pierre. Por que ali, entre os piores criminosos? Porque em Saint-Rèmi, no sul da França,
assassinara a senhora Duval. Matara-a, cobiçoso dos bens da velha. E ainda por cima, no tribunal, negara o crime, se declarara inocente. Tudo isso se dizia dele. Eis porque à sua chegada até os outros condenados o olhavam com repugnância.
               Mas nesse exílio ele nunca se queixou. No trabalho ajudava os presos mais fracos. Na enfermaria a sua dedicação ganha o coração de todos, onde muitos chegam a pedir-lhe a Extrema Unção. Mas lá perto, na Ilha do Diabo, há criminosos mais desgraçados ainda: são os condenados que contraem a terrível lepra. O Padre Pierre solicita que o deixem ir para junto deles. E lá vai.
               Torna-se o seu anjo protetor.
               Um dia debruça-se sobre um deles para aliviar-lhe as chagas horrorosas.
               Oferece-lhe leite e tabaco enquanto faz o curativo. O leproso olha-o cheio de espanto e solta um grito:
               --- Não, não pode ser! Não é possível que seja o Padre Pierre!
               ---Você sabe quem sou?! Quem é você?
               ---Não está me reconhecendo? Sou o Groscaillou, seu antigo jardineiro.
               --- Meu pobre Jean, como Deus o castigou!
               O diálogo atraiu outros condenados. E Groscaillou com sua voz rouca, faz-lhe esta espantosa revelação:
               ---Sei bem que estou para morrer. Escutem-me. O Padre Pierre está inocente. Fui eu que
cometi o crime pelo qual ele foi condenado há vinte anos. Ele sabia disso, mas nunca revelou a ninguém. Fui eu quem matou a senhora Duval. Eu era jardineiro do Padre e dormia num quartinho debaixo do dele. Uma noite enverguei uma sotaina ( batina ), calcei as suas galochas e saí. Eu sabia que a velha tinha um bocado de dinheiro em casa. Ela era prudente, mas abriria sem hesitação a porta, quando visse a batina do Padre. Pois ela abriu-a, mas quando reconheceu não ser ele, desatou a gritar. Agarrei-a pela garganta para silencia-la. Apertei porém, com muita força e matei-a. Enterrei a batina e as galochas no jardim, mas o Padre Pierre viu-me quando eu me dirigia para o meu quarto. Ele podia ver pela minha cara que eu tinha praticado algum crime.
               Levou-me ao confessionário e eu confessei tudo. Jurei que me entregaria pela manhã.
               No dia seguinte, o Padre Pierre é que foi detido. Eu era moço, não queria morrer e por isso não disse nada. Esperava ser preso a qualquer momento. Porém o Padre Pierre não falou. Não quis violar o sigilo do confessionário. Deixou-se condenar!
               E o condenado pediu:
               ---Dêem-me uma caneta, que assinarei uma confissão. Depressa, pois estou nas últimas! -
               Concluiu o moribundo Groscaillou.
               ---Meu filho, não é preciso tanto. -- disse o Padre Pierre a Jean, com a sua voz suave e
repassada de compaixão. -- Faça a sua confissão e arrependa-se diante de Deus. Ele já o castigou.
Reze e peça-lhe perdão. Algum tempo depois êle morre.
               Quando chegou de França a ordem de soltar o Padre Pierre, já era muito tarde. A sua saúde
estava comprometida pela lepra. Querem ainda levá-lo para um hospital.
               ---Esta é a minha gente. Ficarei aqui com ela até meus últimos dias.
                                                                                   (Selecções, Maio de 1951)    

           A NOITE SANTA


               Tinha eu cinco anos, quando sofri o meu primeiro desgosto e tão profundo que dificilmente poderei dizer se, desde então, tive outro maior.
               Foi quando minha Avó morreu. Era hábito seu sentar-se todos os dias no sofá de canto do seu quarto e contar-nos histórias.
               Lembro-me bem da vovó contando histórias, umas após outras, de manhã à noite, e de nós, crianças, sentadas ao seu lado, muito quietas, ouvindo. Era uma vida esplêndida! Nenhuma outra criança teve, como nós, um tempo tão feliz!
               Assim, não será de estranhar que eu fale um pouco a respeito da Vovó. Vejo-a, ainda hoje, com o seu cabelo branco de neve, o corpo ligeiramente inclinado e os dedos, muitos ágeis, tricotando meias, durante todos o dia.
               Lembro-me, também, de que, quando terminava uma história, ela costumava passar a mão sobre a minha cabeça e dizer: - Tudo isto é tão verdadeiro, como é verdade que estou vendo você e você me vê.
               Vovó gostava muito de cantar e todas as canções que sabia eram suaves como ela mesma. Infelizmente, nem todos os dias se dispunha a nos deixar ouvir as suas melodias; lembro-me de que uma de suas canções falava do cavalheiro e da sereia e tinha um estribilho que era assim: "Sopra um vento frio, um vento frio do mar".
               Do hino que costumava cantar, só aprendi uma estrofe; mas a pequenina oração que me ensinou, rezo-a até hoje. De todas as histórias que nos contava guardei apenas uma vaga lembrança. Porém, uma delas ficou tão nitidamente gravada em minha memória, que sou capaz de repeti-la a qualquer momento - a pequenina história do nascimento de Jesus.
               E aqui está, mais ou menos impreciso, tudo quanto posso recordar a respeito de minha vó, menos uma coisa e dessa recordo-me com a mais perfeita exatidão: a grande solidão em que ficamos quando ela se foi... aquela manhã em que o sofá de canto permaneceu vazio... e a nossa incapacidade de compreender que ela nunca mais poderia vir ocupá-lo! Oh! disso eu me recordo tão bem, que nunca o esquecerei!
               Tenho presente o medo que nos dominava quando nós, crianças, nos adiantamos para depositar na mão da morta o último beijo; mas alguém disse que esta era a única oportunidade que tínhamos para agradecer à Vovó todas as alegrias que nos havia proporcionado.
               E as histórias e canções que embelezavam a nossa casa calaram-se, encerradas naquele negro cofre, e nunca mais voltaram!
               E, então, alguma coisa de muito doce faltou às nossas vidas. Foi como se nos tivessem expulsado de um mundo encantado e maravilhoso, cujas portas sempre abertas, que tínhamos a liberdade de transpor, conforme a nossa fantasia, se tivessem fechado de repente e para sempre! E ninguém mais havia que fosse capaz de abri-las!
               Pouco a pouco, aprendemos a brincar com bonecas e demais brinquedos e a viver como vivem as outras crianças; dávamos, então, a impressão de que, embora recordássemos sempre a nossa Avó, não sentíamos muito a sua falta.
               No entanto, todos os dias - e já quarenta anos são passados! - quando me disponho a reunir numa coleção todas as legendas sobre Cristo, ouvidas no Oriente, dentro de mim desperta a lembrança da pequena história de Jesus, como a contava minha Avó, e com tal clareza que me sinto impelida a incluí-la neste livro!
               Era dia de Natal. Toda a família se tinha dirigido à Igreja, menos minha Avó e eu, e creio mesmo que em casa ninguém mais ficara. Estávamos, portanto, completamente sós. Não tínhamos tido permissão de acompanhar os demais, por ser uma já muito velha e a outra ainda muito jovem. E estávamos ambas muito tristes por não termos ido à missa do galo, nem ouvido os cânticos, nem visto as grandes candeias de Natal.
               Então, reunidas na nossa solidão, minha Avó começou a contar uma história.
               - Havia um homem - disse ela - que, já noite escura, saiu de casa para arranjar emprestada uma brasa, a fim de acender o fogo.
               Batendo às portas das cabanas, ele dizia:
               - Meu caro amigo, ajuda-me. Minha mulher acaba de dar à luz um menino e eu preciso fazer fogo para aquecê-la e ao pequenino.
               E ia de cabana em cabana. Mas a noite já estava muito adiantada; todo o mundo dormia e ninguém lhe respondia. E o homem caminhava ... caminhava ...
               De repente, longe, muito fora da estrada, uma luz brilhou; apressado e ansioso, o homem seguiu aquela direção, na esperança de encontrar auxílio; porém, com surprêsa, viu que não se tratava de uma habitação, mas de uma fogueira ateada ao relento. À sua volta uma porção de carneiros dormia, guardada por um velho pastor, que, sentado, os contemplava. Quando o homem, que desejava uma brasa emprestada, chegou junto ao rebanho, três enormes cães, que até aí dormitavam aos pés do pastor, ergueram-se rápidos e fizeram menção de latir. Mas foram vãos os seus esforços. Nenhum som foi emitido.
               O estrangeiro pôde ver, então, os pêlos eriçados dos animais e os afiados dentes, muito alvos, cintilando à luz do fogo.
               Súbito, como movidos por uma única mola, os três cães arremessaram-se furiosamente contra ele, abocanhando-lhe um, a perna; outro a mão; enquanto o terceiro se atirava à sua garganta.
               Porém, nem goelas, nem dentes obedeceram aos ferozes instintos; o homem não sofreu o menor dano. Por isso, pensou em se aproximar mais, a fim de obter o que tanto necessitava. Mas os carneiros, deitados lado a lado, estavam de tal modo juntos que era de todo impossível passar entre eles. Então o homem passou sobre eles, caminhou sobre seus dorsos, em direção à fogueira, e nem um animal acordou ou se moveu!
               Até este ponto, Vovó tinha feito a sua narrativa sem a mínima interrupção. Mas neste ponto não pude conter a curiosidade que me dominava.
               - Por que é que os animais fizeram isso, Vovó? Perguntei.
               - Você saberá daqui a pouco - respondeu minha Avó e prosseguiu.
               - Quando o homem estava quase alcançando a fogueira, o pastor o olhou. Era o pastor velho rude, áspero e cruel para com os seres humanos. Ao ver o estrangeiro, que serenamente se adiantava, tomou o longo e aguçado cajado que trazia sempre consigo, quando vigiava o rebanho, e o atirou contra ele. O cajado partiu célere, mas, antes de alcançar o seu objetivo, volteou sobre si mesmo e, sibilando, foi cair longe, entre o feno.
               Aqui, interrompi Vovó, novamente.
               - Vovó! por que é que o cajado não quis ferir o homem?
               Mas Vovó não perdeu tempo em responder e a história continuou;
               - Então, o desconhecido chegou-se ao pastor e disse-lhe:
               - Bom homem, ajuda-me, empresta-me algumas brasas. Minha mulher acaba de dar à luz um menino e eu preciso fazer fogo para aquecê-La e ao pequenino.
               Pareceu ao rude pastor que um pedido tão estranho nunca lhe houvera sido feito, e preparou-se para recusar, quando, em tempo, se lembrou de que àquele homem os cães não tinham podido morder; que aos seus pés os carneiros se tinham imobilizado e que o cajado, para o não ferir, se tinha atirado no meio do feno, e, então, um supersticioso terror o dominou; não ousando negar, respondeu:
               - Leva quanto necessitares.
               Porém, a fogueira estava acesa ao relento; não havia ali nem uma acha, nem galho abandonado; somente uma enorme pilha de rubros carvões, e o desconhecido não trazia consigo nem pá, nem enxada, com que pudesse transportar uma só daquelas ardentes pedras.
               Percebendo isso, o pastor repetiu:
               - Leva quanto necessitares.
               E estava alegre o velho, pois o homem não tinha possibilidade de levar sequer uma brasa.
               O desconhecido, porém, abaixou-se e, dentre as cinzas, com as próprias mãos nuas, retirou um punhado de brasas e as colocou dentro do manto. E suas mãos não foram queimadas! E seu manto nem chamuscado ficou! E as pedras de fogo foram transportadas como se maças ou nozes fossem!
               Aqui a narradora foi interrompida pela terceira vez:
               - Vovó por que é que o fogo não queimou o homem? ... - perguntei, cheia de admiração.
               - Isto você saberá depois - e vovó continuou:
               - Quando o pastor viu tudo isso, maravilhou-se!...
               - Que espécie de noite é esta? - pensou ele - na qual os cães não mordem, o rebanho não foge, o cajado não fere e o fogo não queima?
               E, chamando o desconhecido, já de regresso, disse-lhe:
               - Que espécie de noite é esta? Que aconteceu, para que todas as coisas manifestem compaixão?
               Ao que o homem respondeu:
               - Nada te posso dizer, vem e vê!
               E tratou de seguir seu caminho, a fim de bem depressa chegar e fazer fogo para aquece a sua mulher e a criança.
               Mas o pastor não queria perder o homem de vista, sem encontrar uma razão para aqueles presságios. Levantou-se, pois, e o seguiu até o lugar em que vivia.
               Com surpresa, constatou que o homem nem cabana tinha para morar e que tanto sua mulher como a criança estavam estendidas no chão de uma gruta na montanha, onde nada havia, a não serem as frias e nuas paredes de pedra. E, olhando a pobre e inocente criança, o velho pastor pensou que ela talvez fosse morre de frio ali dentro; apesar de rude, sentiu-se tocado por um doce sentimento de compaixão e resolveu salvá-lo. Desprendeu dos ombros a mochila, tirou de si a macia e branca pele de ovelha e deu-a ao desconhecido, dizendo-lhe que o menino dormiria melhor, agasalhado nela.
               Logo após essa demonstração de misericórdia, os seus olhos foram abertos e ele viu o que antes não pudera vê e ouviu o que antes não pudera ouvir. E percebeu que se achava cercado de inúmeros anjos de prateadas asas, que, de pé, cantavam, em gloriosos tons, que havia nascido o Salvador. Aquele que redimiria o mundo dos seus pecados.
               E o velho pastor compreendeu que a terra era tão feliz naquela noite bendita, que tinha, por momento, esquecido o mal.
               Mas os anjos não estavam apenas à volta do pastor, ele os via por toda a parte. Havia-os dentro da gruta, havia-os pela montanha e sob os céus revoando. Vinham em profusão e, passando, lançavam sobre a criança um doce e rápido olhar.
               Quanto júbilo! quanto deslumbramento! que de cânticos e melodias! Tudo o pastor viu na noite escura, ele que, antes, nada pudera vê!
               E, então, transbordante de felicidade, o velho e rude homem caiu de joelhos e rendeu graças ao Senhor!
               Aqui, Vovó suspirou e disse:
               - E o que aquele pastor viu nós podíamos também ver, se nos fosse permitido, pois em toda véspera do Natal os anjos descem voando dos Céus.
               Passando, depois, a mão sobre a minha cabeça, disse:
               - Você não deve jamais esquecer isto, pois que é verdade que eu vejo você e você me vê. Isto não será revelado à luz de lâmpadas ou candeias; não depende do sol, nem da lua; o que é necessário é que tenhamos olhos capazes de ver a Glória de Deus.



             A Misteriosa Menina

 
                                                        (Conto)

 Um vendedor de bijuterias tentava negociar alguns de seus produtos desde manhã. e nada conseguia. Em sua fadiga pensou na esposa e nos três filhinhos que o esperavam em casa.

O sol já começava a declinar-se no horizonte quando ele desmontou sua barraca e pôs-se a caminho de casa, sem saber como chegar de mãos vazias. Morava de favores numa chácara, ali perto. Foi caminhando vagarosamente a fim de retardar a tortura que sentiria ao defrontar-se com a família, talvez esperançosa com a sua chegada.

 
“Meu Deus! – monologou – o que fazer para conseguir dinheiro suficiente para sustentar minha família? Não Vos peço muito: só o necessário para hoje”. Todavia, as horas foram passando e nada acontecia para lhe melhorar a sorte.


“Já que até Deus se esqueceu de mim, – pensou – resta-me apenas uma saída”.

Retirou das costas a grande mochila, onde estavam os produtos para a venda, e a barraca desmontada. Apanhou a corda que servia de amarras, entrou no matagal, e junto a um riacho escolheu uma árvore, jogou uma das extremidades da corda sobre um galho, amarrando-a fortemente, e pôs-se a fazer o laço fatídico.

 
Nisso, aparece-lhe uma graciosa menina, de cabelos cacheados, olhar penetrante, a esboçar um sorriso.

– Ei, moço – perguntou suavemente – empresta-me essa corda?

– Emprestar-lhe a corda? Para quê?

– Quero fazer um balanço para brincar, nem que seja por um pouquinho só.

 
E apontando para o chão, observou:

– O senhor deixou cair a carteira.

– Que carteira?! – assustou-se – Não tenho nenhuma carteira.

 
– Olha ela aí perto do seu pé.

– Baixando os olhos ficou estupefacto. Ali estava uma carteira recheada de dinheiro. Apanhou-a rapidamente e nela procurou algum documento que indicasse o nome e o endereço de quem a perdera, pois honesto como era, jamais se apossaria de algo que não lhe pertencesse. Contudo, não encontrou um só documento. Nela estava um maço de notas, suficiente para sustentar a família por alguns meses.

Feliz e arrependido ao mesmo tempo, por ter duvidado de Deus e por ter pensado em por fim à própria vida, ajoelhou-se e pediu perdão pela sua falta de fé. Terminada a prece, retirou a corda para dá-la de presente a menina, mas quando a procurou, ela já não estava mais ali. Chegou em sua casa feliz, mas também interrogativo:

“Quem era aquela menina? Como poderia alguém ter perdido uma carteira naquele lugar tão ermo?”

Contou tudo à esposa, com detalhes. A mulher, mais esclarecida que ele sobre as coisas de Deus, pôs-se a falar:

– Meu querido, não percebe que a menina era um Anjo enviado por Deus, a fim de suprir nossas necessidades?

– Mas... E a carteira? Deus não a jogaria do Céu.

– Claro que não. Mas pode ter feito alguém, à quem esse dinheiro não faria falta, ter ido até aquele lugar, onde a deixou cair, para você a encontrar.

– É... Faz sentido.

– Muitas vezes, meu marido, não entendemos os propósitos de Deus.Ele não atendeu o seu pedido na hora, a fim de provar a sua fé. Mas depois nos socorreu, pois jamais deixa seus filhos perecerem e não os abandona momento algum.

– É... Mas eu falhei em minha fé.

– Mesmo assim, Ele entendeu e perdoou a sua fraqueza. Por isso, diante das maiores dificuldades nunca podemos duvidar daquEle que nos criou e nos colocou aqui na Terra. Essas dificuldades que estamos passando, têm sua razão de ser, embora não saibamos qual é. O sofrimento nos torna mais fortes e resgata nossas dívidas diante de Deus. Por outro lado...Foi interrompida por alguém que batia à porta. Atenderam cismados. Um homem bem vestido, após cumprimentá-los, perguntou:

– Por acaso algum de vocês achou uma carteira por aí? Estava no mato à procura do meu cachorrinho de estimação e, quando voltei para casa, dei pela falta da carteira. Como eu sei que o senhor costuma passar por lá, vim perguntar.

Marido e mulher se entreolharam, deixando transparecer certa decepção.

– Sim – disse-lhe o vendedor – aqui está ela.

O desconhecido olhou a miséria no ambiente, observou as crianças esquálidas e pediu:

– A senhora pode me servir um cafezinho?

– Sinto muito, senhor. Não temos nada em casa, nem mesmo para fazer um café.

O rosto do homem contraiu-se de pena. Abriu a carteira, deu-lhe um pacote de notas e dirigindo-se ao dono da casa, foi taxativo, fazendo referência à difícil situação em que se encontravam.

– Venha ao mercado comigo para comprarmos o que vocês precisam. Tome este cartão e me procure amanhã. Pela sua honestidade, tão rara nos dias de hoje, convido-o a trabalhar na minha empresa e a senhora.

Aí o casal compreendeu como Deus é perfeito em tudo o que faz. Só o mistério do aparecimento da menina não conseguiram desvendar, mas continuaram acreditando que fosse um Anjo.

                                                                                                             Jorge Felipe Sá de Freitas